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Reflexões sobre histórias e clichês femininos

Horário de verão, seu lindo

Nem me venha com chororô. Com cara de bode, reclamações. Horário de verão é vida. Anuncia o que vem de bom por aí: vestido rodado e rasteirinha.  É hora de guardar o casaco no armário, deixar de lado as peças pretas, o ar elegante de Europa. A hora é de tropicalismo. Ele chegou, com sua horinha a mais, fazendo as pessoas darem aquela arrastada no dia. Saímos do trabalho secos por uma cerveja para refrescar, com vontade de encontrar gente. Até eu, uma pessoa que não gosta de Carnaval, que dispensa encontro com amigos que não são íntimos e que reza pela casa e pela cama, gosto do horário de verão.

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Por Marilia Neustein
Atualização:

Sei que esse é um assunto de divide opiniões, mas vou defender aqui essa opção de vida. Quem gosta do horário de verão conhece bem um certo suspiro no fim de tarde. Suspiro de satisfação. É sair do trampo com a luz do dia batendo na cara. É fazer esporte no começo da noite. É acordar com um ar fresquinho da manhã e saber que tem um dia longo -- uma promessa de tempo. Ora, somos um país tropical. Essa é a nossa temperatura, o nosso horário. O dia dura mais, a noite cai devagar, começam os happy hours, drinks gelados, suco de abacaxi, salada.

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Horário de verão: seu nome é euforia E, como toda alegria intensa, é passageiro, é verdade. Mas quando chega, é o aviso das coisas boas que vêm por aí: fins de tarde de calor, parque Ibirapuera, rolê de bike, churrascos, crianças na piscina. Sim, ninguém aguenta uma vida inteira feita de verão. É claro que tudo isso cansa, que a gente quer chuva, que a gente quer Netflix em casa debaixo do cobertor. Mas agora o tempo é dele.

Dizem que ele (o horário de verão) foi feito para economia de energia. Mas, para mim, ele é o contrário: nada econômico. É o esbanjar da alegria, faz o sol brilhar mais forte e por mais tempo. Dizem, também, que ele pode fazer mal para o coração, mas eu não acredito. Quem passa pelos bares vê bem as pulsações do verão. Que a gente toda se solta, se deixa ir. Ele é dourado, é pele quentinha depois de um dia de praia, é Aperol e aperitivo. Não dá para viver assim para sempre e por isso gosto também que ele seja temporário. E também não é unânime: deixa algumas pessoas felizes e outras frustradas, assim como a vida. Por isso eu digo para ele: bem-vindo, amigo.

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