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Reflexões sobre histórias e clichês femininos

Dia dos namorados

Vocês começam uma construção. Casa nova. Espacos pequenos para muitas ideias e desejos juntos. Ele a achou mimada no primeiro piti que você deu por conta da louça. Você achou ele levemente folgado e já foi logo dando sermão para deixar claro que as tarefas domesticas seriam divididas fifty/fifty. E riram. Desde o começo deixaram um espaço para o outro. Ele fuma. Mas só na varanda. Você é friorenta. Ele sente calor. Como juntar tudo isso em uma só vida? O detox de um e a vontade displicente de comer doce do outro? A casa fica pronta aos poucos. Um gosta de agua gelada e o outro, natural. Vocês conseguem achar um espaço para cada garrafa. Vinhos de sexta-feira noite com direito a series no Netflix, planos de filhos e quem sabe, algum dia, uma viagem para a Ásia ­-- se você conseguir convencê-lo a se interessar por monges budistas.

Por Marilia Neustein
Atualização:

O amor parece estar fora de moda,eu sei. Tem tanta coisa urgente para fazer: mudar o País, se manifestar contra tudo, adotar uma dieta que não tenha agrotóxicos, escolher o textão do dia que você vai compartilhar no seu Facebook e brigar com seu vizinho porque ele para o carro de um jeito que fica ruim para você estacionar o seu. Só que tem qualquer coisa, meio miúda, que faz a gente esquecer (ou fingir esquecer) dessas coisas e ficar até tarde, no domingo de manhã, montando uma playlist com músicas que dizem muito para os dois. Tem a corrupção, um milhão de injustiças, propagandas enganosas, vídeos horripilantes chegando - sem aviso prévio- no seu WhatsApp. Mas, de repente, você é capturada por uma aula bacana da sua pós-graduação. Descobre um livro antigo. Assiste um filme turco sobre cinco irmãs. Você acaba de comer balinhas "haribo" e encosta seu pé gelado no pé quente dele... e é tomada por um sentimento cafona e muito bom.

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Não compartilho da ideia de que as pessoas são cada vez mais egoístas e estão menos dedicadas aos relacionamentos. O que vejo, todos os dias, é gente querendo encontrar uma pessoa - ou muitas pessoas, tanto faz - para dividir as coisas da vida. Os trancos, os aumentos, a sobremesa. Cada vez tem mais gente, nesse mundão, buscando dividir. Tarefas, pesos, alegrias. O amor pode até estar fora de moda, pode dar pouca audiência, mas tanto petralhas quanto coxinhas, nas horas livres, buscam a tal tampa da panela (que pode ser uma ou muitas).

Falta cumplicidade? Falta. Falta se colocar no lugar do outro ? Ôooo... Mas, a turma está aí, lutando, se conhecendo, namorando, batalhando para ter grana, para construir uma qualidade de vida que equilibre a vontade do casal. Tem muita genteempenhada em fazer os relacionamentos funcionarem não só para ter um um par para postar no Instagram ou exibir para os outros, mas porque acredita no poder dos vínculos.

Tá puxado, gente, eu sei. Mas nem tudo pode ser maior do que essas pequenas coisas que fazem a gente feliz.

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