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Reflexões sobre histórias e clichês femininos

Bedelho no relacionamento alheio

Já faz alguns dias que o assunto bomba na internet. Todo mundo tem uma opinião sobre o fim do casamento do Ben Affleck com Jennifer Garner. É um tal de compartilhar a foto da babá, hostilizar a menina nas redes sociais, perder horas comentando a cafajestice dele, o olhar triste da mulher. Quem está certo, quem está errado, quem tinha compromisso, quem não tinha. Enfim.

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Por Marilia Neustein
Atualização:

Nem acho que o problema seja a falta de assunto em geral ou a exposição que essas pessoas sofrem. E sim uma frustração coletiva a respeito de uma ideia construída de casamento. E se for detectado algum cheirinho de traição, aí que as pessoas vão ao delírio. Um delírio mórbido.

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Aprendemos nas novelas da Globo: quando uma história de amor acaba, precisa ter um triângulo. Se não tiver um triângulo não tem história para contar. Mas a verdade é que, às vezes, não tem. E em outras ocasiões pode até ter, mas o triângulo não é o centro do problema e sim o resultado de uma relação que já estava falida há muito tempo. Parece que as pessoas buscam o tempo todo os personagens para dar à história um fim que faça sentido. Entretanto, nem toda narrativa tem um vilão/vilã e um coitado/coitada. Todo mundo que já passou por uma separação sabe disso.Na maioria das vezes um término é um conjunto de coisas: falta de companheirismo, momentos extremamente diferentes ou simplesmente o fim do amor mesmo. Então, essa reação coletiva bizarra a que assistimos com a profusão de opiniões só expressa o quanto é difícil encarar a realidade de que não deu para eles. Gente, não deu para eles. Se teve babá no meio, se não teve, se ele era péssimo marido, um pai horroroso ou ela era uma louca que dava "piti" o tempo todo, nós nunca saberemos. E é muito difícil lidar com o não saber o que deu errado. Mas é assim.

Não se trata do Ben Affleck e da Jennifer Garner, é claro. Acontece com todo mundo. Conosco, com o vizinho, com a Lady Di, com a Grazi.A dificuldade vem do fato de que não sabemos o que acontece entre quatro paredes. Não sabemos e ponto.É difícil acreditar que aquela sua amiga linda, que posta Aperol Sptriz e beijos com corações com o namorado no pôr- do- sol de Paris se separou na semana seguinte? Pois é, acontece. Nem sempre um casamento é o que parece. Principalmente em tempos de redes sociais. E não temos nadinha a ver com isso. As pessoas sempre enchem a boca para dizer: "Ah, se não estava bom, por que não se separou antes?" Por que às vezes não dá. Porque nem sempre quem está no meio de uma situação dramática -- e uma separação é sempre algo muito triste -- sabe como sair dela. Porque às vezes é tanto sofrimento, tanta coisa envolvida, que as pessoas não têm coragem. E tudo bem, as coisas têm seu tempo. Então, é claro que é muito fácil apontar o dedo para os outros: a amiga, a prima ou a Jennifer Garner e a babá.

Entretanto, nossa sociedade seria bem mais sã se, no lugar de perder tempo urubuzando o casamento ou a separaçao dos outros, as pessoas tivessem um pouco de compaixão e vivessem suas vidas. Nada mais macabro do que vibrar com o sofrimento alheio.

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