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Retratos e relatos do cotidiano

Tios e sobrinhos

Tesouros.

Por Ruth Manus
Atualização:

A primeira vez que vi minha sobrinha foi também a primeira vez que ouvi o mundo ficar em silêncio. Simplesmente não existia mais nada além da sua mãozinha fechada e respiração tranquila. Caí num choro sem precedentes.

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Dez anos depois, meu presente de Natal foi a notícia de que há mais uma pequena a caminho. Hoje, ao receber a foto do ultrassom da minha irmã a quase 8 mil quilômetros de distância, caí num choro que, dessa vez, tinha aquele único precedente.

Já procurei muitas palavras para qualificar sobrinhos. Até hoje nenhuma me soou mais adequada do que "tesouro".

Uma vez me disseram "no dia em que você for mãe que você vai entender o amor de verdade".Sei lá. Ainda não sou mãe, mas sei que na arte do amor não existem comparações. Não amamos mais ou menos, amamos de formas diversas. E é por isso que sei que esse amor de tia não vai mudar nunca. Porque todo amor é soberano, basta por si.

Há quem diga que ser tio é só delícia. Brincar sem horário, levar ao cinema, dar presentes sem data. De fato, existe uma leveza incomparável nessa relação (talvez pelo fato dos sobrinhos poderem, quase sempre, ser devolvidos aos pais ou avós na hora que a gente cansa). Mas eu não sei se acho uma missão tão simples assim.

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Quem tem tios queridos sabe bem disso. Criamos em nós mesmos uma louca tentativa de ser para os nossos sobrinhos tudo o que vemos de bom em cada um dos nossos tios. O carinho de um, o bom humor do outro, o jeito porra louca de um terceiro, o cuidado de um quarto. E, além disso, tudo o mais que não tivemos deles, mas gostaríamos de dar para os nossos. Missão impossível, é claro.

Tios querem ser um pouco pais, um pouco avós, um pouco irmãos, um pouco primos e muito, muito amigos. Ser tio é a eterna tentativa de ser absolutamente tudo para alguém. Mães querem ser boas mães, avôs querem ser bons avôs, amigos querem ser bons amigos. Tios querem cuidar como pais, mimar como avós, ser cúmplices como irmãos, divertidos como primos, indispensáveis como amigos.

No fundo, não acho nada fácil essa história de ser tia.

Além disso, há aquela eterna corda bamba para não comprar grandes brigas com os irmãos e os cunhados. Eles sempre se aborrecem por coisas inofensivas que fazemos como dar Mc Donald's quando a criança já tem 2 meses de idade; comprar brinquedos que fazem barulhos infernais e espirram água a 6 metros de distância, liberar meio pacote de bolacha Passatempo 10 minutos antes do almoço e, o mais grave, o fato de começarmos, num dado momento, a guardar segredos.

Mas qualquer embate por causa deles vale a pena. Não tive dúvidas disso desde a primeira vez em que vi minha pequena-já-não-tão-pequena-assim. E a primeira vez que a ouvi dizer "tia", perdi definitivamente todas as armas. O melhor de tudo: ela sabe muito bem disso.

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E não importa o passar dos anos, nem o quanto eles cresçam: carinho, mimo, parceria, amizade e amor só se fortalecem com o tempo. É só saber cultivar todo dia com as palavras, os olhos e a intenção. Como bem disse Antoine de Saint-Exupery "O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá, mais se tem.".

E hoje, adulta, tia e sobrinha ao mesmo tempo, não penso duas vezes para confirmar que essas relações, de tios e sobrinhos, sobrinhos e tios, não poderiam mesmo ter outro nome: são, definitivamente, tesouros que a vida nos deu.

 

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