Quando você não está, eu não morro.
Não fico sem comer
Nem preciso que chamem socorro.
Não, não, eu não morro.
Eu fico bem. Eu saio cedo.
E quando o domingo vem,
Tudo bem
Eu não morro de medo.
Não morro não.
Tem amigo. Tem jogo à tarde. Tem dogão.
Mas ficam uns buracos nos meus dias.
Porque falta seu cheiro.
E porque falta sua escova de dentes na pia.
Mas eu não morro não.
Sabia?
Eu vou trabalhando.
Resolvendo os paranauê
Vou me ajeitando
Mas
- tem jeito não-
já percebi o quão melhor
Eu me ajeito
Perto de você.
Quando você não está
A sexta-feira continua sendo boa
Não vou negar
Continua sendo lindo
Eu continuo rindo
À toa
No bar
Mas seria bom voltar para a mesa
E te encontrar por lá
Bebendo minha cerveja
"Só pra ela não esquentar"
Não vou te enganar
Eu não me arrasto pelos cantos
Eu não viro dor e pranto
Não prometo nada aos santos
Eu almoço bem e também janto
Quando você não está
Eu sigo bem
A minha vida
Sigo forte e sacudida
Porque não sou de fraquejar
Mas não há dúvida nenhuma
Que quando você surge na porta
Tem pulsação forte na aorta
Tem friozinho na barriga
Uma perna que formiga
Uma ponta que se liga
À outra
Que estava solta
Por aí
Perdida
Na vida
Quando você volta
Eu não morro não
Nem tomo comprimidos
Pra baixar minha pressão
Mas é isso:
Você chegou
Minha perna fraquejou
Minha boca avermelhou
E, sim,
A escova de dentes, enfim, voltou
E , sim,
Os dentes também voltaram
E se esses dentes que vejo
São os seus
Parece-me
Que as coisas fazem
Ainda muito mais sentido
Nesse mundão
Louco de Deus