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Retratos e relatos do cotidiano

Quando um prédio desaba não podem existir dois lados

Se você está criticando pessoas soterradas, você só pode estar errado

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Por Ruth Manus
Atualização:

 

O delicadíssimo momento que o Brasil vive atualmente fez com que as pessoas perdessem um pouco da noção de quando deve haver uma divisão entre posicionamentos políticos e quando não deve. Algo que quase todos nós sentimos, por vontade de ser sempre algo diametralmente oposto a certos perfis. Parece que emergiu entre nós uma violenta incapacidade de enxergar que certos assuntos precisam ser unânimes.

 

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Quando um prédio desaba e há vítimas, simplesmente não podem existir dois lados. Há pessoas soterradas e ponto. O único lado possível é aquele que torce pela vida e pelo bem estar das pessoas que ali estão. Cabe a qualquer ser humano minimamente decente sentir algo- meio fora de moda, é bem verdade- chamado compaixão.

 

Sem dúvida nenhuma todos devemos cobrar a fiscalização e as medidas cabíveis por parte do Estado e das instituições responsáveis por uma situação como essa, que é um evidente sinal de negligência por parte do poder público. Mas quando as pessoas começam a colocar uma série de "mas" em frente às vítimas, algo muito sinistro começa a se mostrar.

 

É um tipo de comportamento que me lembra muito os senões que algumas pessoas insistem em colocar em torno de uma vítima de violência sexual, tentando buscar razões para atestar que, em última instância, a culpa é da vítima. É exatamente o que tem acontecido com as pessoas que viviam naquele prédio.

 

Nessas situações a única coisa que fica demonstrada é a falta de humanidade de quem questiona a validade da dor dos outros e a miséria humana que reside naqueles que estão mais preocupados em tecer críticas político-sociais do que em torcer por resgates. Não há nenhum argumento que justifique um comportamento tão, mas tão mesquinho.

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Ninguém está pedindo para as pessoas irem até o local para ajudar os bombeiros que buscam seres humanos embaixo de escombros. Portanto, inexiste qualquer razão para tentar buscar argumentos que reduzam seu direito à nossa solidariedade. Neste momento pouco importa se a ocupação não era legal, pouco importa sua opinião acerca dos movimentos que pleiteiam os direitos de moradia. Nesse momento só importa que são pessoas. Pessoas embaixo de escombros.

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