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Retratos e relatos do cotidiano

O fim da era dos homens machões

A adorável geração de homens que não está minimamente preocupada em provar sua masculinidade

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Por Ruth Manus
Atualização:

 

Não sei bem se meu olhar está viciado pelo raio Rodrigo Hilbertzador ou se as coisas estão mesmo ficando melhores. Não sei se é excesso de otimismo ou se finalmente os homens começaram a se desembaraçar das ridículas amarras do machismo, abandonando hábitos e personagens das quais praticamente ninguém nunca gostou. Nem nós mulheres, nem eles mesmos.

 

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Aquela ideia rançosa do homem excessivamente musculoso ou barrigudo por orgulho e indiferença, falando grosso, sem qualquer indício de delicadeza, tomando cerveja com o sapato no sofá enquanto xinga o zagueiro do seu time é uma coisa tão sem cabimento que chega a ser difícil explicar o porquê dela ter perdurado nos nossos ideários ao longo de tantos anos.

 

Parece que agora, finalmente, nos deparamos com uma nova leva de homens que encontra prazer- e, aos poucos, alguma liberdade- em desempenhar figuras muito mais naturais, agradáveis e atraentes.

 

Há mulheres que ainda gostam dos machões, com fixação por carros, lutas, músculos, palavrões, silicone e destilados? Certamente há. E os homens que elas admiram ainda existem. Pronto. Eles podem se encontrar e ser muito felizes. Deus abençoe. Mas felizmente a maioria dos homens, sobretudo os com menos de 40 parecem já se sentir livres para ser coisa melhor do que isso.

 

Homens que cozinham, que compram alimentos orgânicos e que se exercitam por saúde e não por maromba.

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Homens que riem deles mesmos, dizendo publicamente que têm medo de rato, barata, altura, avião.

Homens que declaram sua paixão desmedida por seus cachorros, gatos, papagaios, tartarugas.

Homens que entendem de plantas, cuidam de bonsai, de samambaias e de suculentas.

Homens que sonham declaradamente em ser pais. Pais de verdade, não pais de ocasião.

Homens que colocam o papel de pai como a missão primordial da própria vida.

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Homens que se separam e fazem questão de ter guarda compartilhada, abominando a noção de ser uma pai quinzenal aos finais de semana.

Homens que amam ser pais de meninas e jogam bola com elas.

Homens que amam ser pais de meninos e cozinham com eles.

Homens que não estão minimamente preocupados em provar sua masculinidade.

Homens incríveis que são gays. Homens incríveis que são hétero.

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Homens que são verdadeiramente amigos de mulheres.

Homens héteros com dezenas de amigos gays. Homens gays com dezenas de amigos héteros.

Homens que declaram publicamente seus amores pelos pais e pelos avós.

Homens que leem livros da Chimamanda e da Rupi Kaur.

 

Há uma nítida evolução no mundo quando percebe-se que tantos rapazes que escrevem poesia em quadradinhos no instagram tornam-se espécies de sex symbols modernos.

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Pois é. Vai ter spaghetti de palmito de pupunha, sim. Vai ter homem que chora, sim. Vai ter homem que não liga pra carro, sim. Vai ter paternidade ativa, sim. Vai ter eu, você, dois filhos e um cachorro, sim. Vai ter e a gente gosta.

 

Parece que finalmente homens e mulheres estão entendendo que não precisam ser opostos para nos sentirmos atraídos uns pelos outros. Muito pelo contrário. Ainda bem.

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