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Retratos e relatos do cotidiano

Era uma vez um lindo reino pisoteado por um gigante bruto

Triste história.

Por Ruth Manus
Atualização:

Era uma vez um reino que já havia sido feliz

Onde as pessoas riam, dançavam descalças

E diziam "vai com Deus" para todo mundo

Era um reino alegre por causa de sua gente

Que lutava- uns mais, outros menos-

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Por dias melhores e por menos erros

Os que lutavam, nem sempre concordavam

Alguns, que moravam na margem esquerda do rio,

Queriam que alas do palácio real

Fossem transformadas em moradia para os camponeses

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Outros, que moravam à direita do rio,

Queriam aumentar o ouro do reino

Torná-lo mais forte por causa do ouro

E, sendo mais rico, o reino seria melhor pra todos

De formas diferentes, todos queriam

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O bem do reino

E todos eles bebiam cerveja juntos

No fim do dia

E riam

E dançavam

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No reino havia um palácio

E no palácio havia um trono

E no trono havia uma rainha

Que às vezes acertava e às vezes errava feio

Mas que estava lá, sempre trabalhando

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E era a herdeira legítima da coroa

Disso, ninguém duvidava

 

Diziam que havia no reino uma caverna

Muito fria e muito escura

Caverna essa, onde dormia um gigante

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E ninguém o conhecia

Alguns diziam que ele era o novo herói

Outros diziam que ele era a reencarnação

De um antigo reizinho malvado

Que tomou o poder à força no século anterior

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Alguns diziam que ele era a solução

Outros diziam que ele seria a desgraça

 

Até que o dia chegou

Ele abriu os olhos

Levantou-se

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Saiu da caverna com o cenho franzido

E começou a caminhar com passos duros

Pisou nas flores

Arrancou árvores com as mãos

E começou a gritar

Gritar

Gritar

Ele não sabia conversar sem grito

Aos berros, mandava a rainha sair do trono

Dizia que ia sentar-se lá e mudar todo o reino

Ele não parava de gritar

E de pisotear

E de ameaçar

Aqueles que riam e dançavam

- tanto os que amavam o ouro

quanto os que amavam os camponeses-

Voltaram tristes para casa

 

O gigante gritava palavras feias

Porque não sabia conversar

O gigante mandou prender crianças

Porque não queria educá-las

O gigante não gostava dos trabalhadores

Porque ele não os via como seus irmãos

O gigante gostava de vingança

Porque não sabia o que era justiça

O gigante mandou acabar com muitas famílias

Porque não sabia que família era mais do sangue

O gigante fazia barulho batendo coisas

Porque não sabia tocar flauta

O gigante não dizia "vai com Deus"

Por que sua religião era o ódio

O gigante não sabia o que era amor

E o reino da dança e do riso

Foi ficando cada dia mais cinza

Por mais que alguns daltônicos

Jurassem que aquele cinza

Era verde como os campos

E amarelo como o ouro

 

Nunca se soube

O que aconteceu com o reino

Alguns contam que o gigante,

De tanto gritar,

Perdeu a voz

Outros contam que

O gigante era um fantoche

De um outro reino

Que tomou o poder

E cometeu barbáries

Outros dizem

Que todos se juntaram

E num dia em que o gigante dormia...

Pegaram sua cabeça...

Seguraram-na...

E fizeram...

Cafuné .

E que ele finalmente entendeu

Que certas coisas eram melhores

Do que gritar

E pisotear flores.

 

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