Se me apaixono? Muito. Como? Quando? Por quê? Puxa o banquinho aí:
Saca escada rolante? Pois bem, tem tudo a ver.
Pra mim, paixão, essa fagulha de amor, não é só química, não. Tem física da mais cabeluda. Há um não sei o quê na cinética daqueles degraus que, afirmo seguramente, funcionam na velocidade exata pro climinha rolar. Puro romantismo, talvez: no compasso daqueles rolamentos qualquer música ambiente de shopping vira trilha sonora de filminho mela cueca.
Foi assim na vez da Gabi, com cara de Fernanda; da Thaís, com cara de Bruna. Repete-se sempre: quando vou ao McDonalds, comprar pasta de dentes, quando vou tomar o metrô. Subindo, ou descendo. Tudo vira só uma questão de ponto de vista. Nos flertes verticais, muchachos, os olhos escalarão do sopé das pernas para descansar no sorriso, se subo; e se desço, escorregar da boca pra depois, bem, esquecer cerimônias, espantar as galhardias todas, fingir uma torcicolo e... Opa! Acabou a escada.
Paixões descaradas, todas muito desinibidas. Paixões de primeiro e segundo pisos, paixões underground. Que acontecem na ascensão ou no descenso, no Pátio Higienópolis ou na estaçao Corinthians Itaquera. Em qualquer lugar, a qualquer hora: basta o desnível que justifique a existência de uma escada rolante pro Cupido, querubim esperto, pintar e bordar, abrir janelas dos corações pra esse porvir incerto que, nessas horas, chamamos de amor.
Mas antes, nessas escadarias de Eros, a gente vai ensaiando o samba do crioulo doido. Ensaia pra aprender a hora de viver o grande amor, de muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso.
Pode ser que por isso, depois das escadas rolantes, os deuses e orixás inventaram o cinema. No cima-embaixo da vida, indo ao McDonalds, ou comprando pasta de dentes, quem sabe não eram o escurinho e o aconchego que faltavam pra sementinha da paixão parar de tanto chove não molha, de tantos degraus rolados pra cima e pra baixo, pra só então, finalmente, despontar em flor.