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Crônicas do cotidiano

A boa notícia

A má notícia é que não sei quando, nem como vou passar a beber menos,  ou aprender a declamar poesias de cor. Tocar piano como Tom então, vá lá, é muito difícil, e até eu pegar o beabá da coisa pode ser que gente nem curta mais tanto Bossa Nova assim. Até lá, talvez eu comece a repetir os lugares onde a gente vai jantar, usar as mesmas cantadas que naquela época funcionaram - hoje você estará com os olhos no prato, cortando o brócolis com seus gestos maternos como em tudo o que faz. Procurarei, então, refúgio da frustração no paliteiro, cutucarei os molares aqui e acolá e só assim vou conseguir atrair sua atenção. Para uma bronca. Ou em casos de mais palitadas, desembocar a gente numa DR sem pé, nem cabeça.

Por Ricardo Chapola
Atualização:

Nada que desmentisse aquilo que provavelmente já te falei, de que tudo seriam flores. Não dava para prometer que nos altos mares em que boiam nossas frágeis embarcações não houvesse tempestades. Se tivermos sorte e um pingo de colaboração mútua - tá bom, eu pondero nos palavrões, desde que você manere nas crises de TPM -, quem sabe as bonanças predominem. Se não, entre as farpas cruzadas e impensadas, coices e patadas, calúnias até, uma hora vou clamar por sua mão e você, pela minha.

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Aí a gente se lembra de que a paz sempre estará mais próxima do que imaginávamos, à distância do vão entre nossos corpos na cama, no espaço que a gente se acostumou a conservar sem mais, nem menos para um amontoado de lençol e um vazio sem sentido.

Às nossas fotografias de viagens curtas, espero somar Paris, a gente patinando no gelo, o carro quebrando na estrada e a gente rindo porque não sabíamos onde raios era o tal do radiador. Na falta de grana, a gente bota o glamour francês de lado e vaipara Campos do Jordão. Você me entende, né? Por mim, traçaríamos a pernadas próprias nossas rotas pelo mapa que dorme, dobrado, embaixo da nossa foto, tudo ao nosso tempo, começando por Brasil adentro, depois afora. Que tudo isso se traduza em mais lembrancinhas coladas na nossa geladeira, cidades destrinchadas pelos nossos pés, novos amigos, festinhas em casa, na compra gradual de nossa mobília, nas sestas de fim de tarde na rede da varanda. Ou então fazemos tudo pela internet mesmo, na edícula de casa, compartilhando a tristeza no mesmo copo.

Não sei até onde posso garantir frases de efeito, ele acaba, se esgota não sei se de tanto usar, ou se de tanto ler. Vira clichê. As ideias surpreendentes se tornam então só ideias. As cartas provavelmente perderão sua quintessência nas frases batidas, diluídas nas metáforas que, na hora, equivocadamente classifiquei de inéditas.  Mesmice que me persegue até ao invocar pela luz poética: reduzo máximas à mínimas em questão de duas ou três ocasiões.

Quem sabe eu consiga contornar o quadradismo, de ser a desgraçada macaxeira sem sal da porção. Livrar-me do fardo dessa insossa fama, pois o mínimo que quero é fazer cócegas nas suas papilas e saltar um pouco aos olhos. Será difícil não tendo noção nenhuma de piano, bebendo o que bebo e falando esse tanto de palavrões. As poesias salvariam se eu as decorasse. Eu sei disso tudo. Só quero deixar claro que não vou desistir. Essa é a boa notícia.

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