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Pelo desenvolvimento integral das crianças e seus direitos

No dia mundial de luta contra a depressão, que tal uma conversa franca sobre esse distúrbio e a infância?

Hoje, 7 de abril, é o dia dedicado a discutir a depressão mundial, nos convida a Organização Mundial da Saúde, com a campanha Let's talk about (vamos falar sobre). Não é um tema fácil, a considerar que, na véspera (06 de abril), dezenas de mísseis norte-americanos assolaram a Síria, país que tem ceifado toda uma geração, com milhares de bebês e crianças mortos, numa guerra que destitui, dia a dia, inúmeros direitos: à vida, à infância, à convivência familiar, ao estudo. O tema nos enche de enorme tristeza, deixa órfãos, extermina famílias e assassina esperanças. Uma política de portas abertas à chegada dessas famílias e crianças refugiadas poderá abrandar o estresse e assegurar uma educação saudável, nunca apagá-los.

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Por Terciane Alves
Atualização:

Assim é o ser humano, atestam estudos no campo da neurociência: as experiências que têm nos seus primeiro mil dias (da gestação aos três anos) vão marcar seu desenvolvimento afetivo, intelectual e físico sem precedentes. (Vale ver aqui vídeo da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal). Abaixo, não resisti, vai o textão.

As manifestações de afeto a uma criança na primeira fase da vida a tornam segura e favorecem seu relacionamento social. Os estímulos para conversar com o bebê fazem com que ele tenha mais repertório de palavras do que uma criança deixada quietinha, sem estímulo. Sabe aquela festa que o bebê faz na hora de alimentar? Olho no olho, gargalhadas, murmurio de palavras. Ele está exercendo o ato de tornar-se alguém mais saudável e com plenitude. Tempo é saúde.

 Foto: Estadão

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O mesmo vale para o espaço que a criança tem para engatinhar, dar os primeiros passos, correr. Quanto mais, melhor. E brincar é um elemento para a crianças relacionar-se com a vida com mais inteireza e reconhecer o mundo. O mundo inteiro para a criança é um brinquedo. Li recentemente que, aos cinco meses, inicia a ver cores. Salvem quem puder os enfeites da estante baixinha da vovô. É um parque de diversões.

É difícil falar dos transtornos depressivos sem realmente estudar a conexão deles com a infância. A depressão clínica, endógena, como dizem os psiquiatras, é hoje considerada uma das doenças mais incapacitantes do mundo. São 300 milhões no mundo afetada pelo distúrbio e o Brasil tem registrado altos índices do problema. Uma gama de problemas sociais e situações de extrema pobreza e adversidade trazem mais desafios ainda.

A doença, em diferentes contextos sociais, interfere de forma drástica na vida das famílias. Nas situações de vulnerabilidade social (adolescentes vítimas de violência, uso de drogas, abandono da família, violência intrafamiliar, alcoolismo na família, gestação indesejada e moradias precárias), a depressão é ainda mais impactante ou fator de risco.

A metáfora da guerra, usada no início do texto, serve para aludir como o ser humano é devastado no processo de vivência desta doença, que nada tem a ver com fraqueza moral ou força de caráter, mas o desequilíbrio químico.

Diante de processos químicos neurais, a pessoa doente perde, em essência, a vontade de viver. Sente apatia, anedonia (ausência de prazer), sofre da síndrome do pensamento acelerado, perde a confiança em si, tem problemas com o sono (dorme demais e fica insone), anda sempre cansada e enxerga tudo pelo negativo.

É a química cerebral a responsável. Medicamentos, terapias e tratamentos novos, como a estimulação magnética transcraniana, tem trazido condições de maior estabilidade e uma vida mais plena aos que sofrem de depressão unipolar e também também da bipolaridade afetiva (oscila entre baixas depressivas e euforias, a grosso modo).

No contexto da Primeira Infância (período que denvolve desde a decisão da gestação ao parto), o combate à depressão nos revela diferentes situações da vivência da doença que carecem de maior suporte de políticas públicas. Vou me ater a três prioridades que podem trazer mais condições de superá-la.

Crescimento saudável

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Para que um cérebro de um bebê se desenvolva de forma saudável, tem de receber estímulos que permitam aproveitar o máximo de seu potencial genético. De acordo com várias literaturas sobre desenvolvimento infantil, por exemplo, espera-se que as crianças tenham acesso a certos padrões de luz e uma série estímulos sonoros, que tornem possível o desenvolvimento de sistemas visuais e auditivos. Outra expectativa é que contem com uma pessoa responsiva e estável que os cuide, favorecendo o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo. Se essas não forem contempladas, o desenvolvimento cerebral é afetado negativamente, resultando em distúrbios de aprendizagem e dificuldades de relacionamento, por exemplo.

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A importância de reduzir o estresse tóxico na infância

Quando as crianças crescem em situação de violência, se prolongadas elas se vinculam com relação a atividade do sistema de reação constante ao estresse. Constantemente ativado, ele deixa sequelas emocionais na fase adulta. A exposição a vivências saudáveis e restauradoras poderá ajudar, mas se desde cedo houver esse cuidado, é mais razoável cuidar do que tentar reverter no futuro.

Durante uma experiência de estresse, o corpo e o cérebro ficam em alerta e sobrecarregados, com o aumento da adrenalina e dos batimentos cardíacos, por exemplo. Neste momento, é importante ter um adulto que acolha e acalme a criança, para que o corpo volte rapidamente ao normal. Quando a criança aciona com frequência seu sistema de reação ao estresse, sem contar com um adulto acolhedor, pode sofrer uma série de problemas emocionais no futuro. As informações constam de estudo de Charles Nelson, professor de pediatria em Harvard.

O estresse tóxico, observou Nelson,persistente muda até a arquitetura do cérebro e diminui o número de conexões dos neurônios, afeta também o sistema imunológico, o metabolismo e a função cardiovascular. Como regra geral, adversidades na primeira infância gera consequências mais profundas e mais duradouras do que adversidades sofridas depois. Por isso, é tão importante proteger a primeira infância,

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Maior participação dos companheiros nos cuidados ao bebê

A participação dos companheiros, não só a figura da mãe, seja em qual modelo parental de família exista é fundamental para o conforto do bebê e estabilidade emocional da mulher. O ajuste de tempo e paciência para que exista cumplicidade entre o que fazer e como exercer os pais nem sempre é fácil sozinho. Por isso algumas políticas publicas de referência estimulam a participação do homem nos cuidados com o bebê e também atuam no sentido de oferecer suporte para que eles se sintam seguros nos cuidados com a criança. Também ajudam a mãe a relaxar e aceitar a ajuda paterna, ainda que estes estejam, aos poucos, aprendendo a cuidar dos bebês em atividades como banho, troca de fraldas, brincadeiras interativas.

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