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Reflexões sobre gênero, violência e sociedade

Precisa mesmo chamar de feminista?

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Por Nana Soares
Atualização:
Ilustração: Renata Nolasco*  Foto: Estadão

O que não falta neste mundo é mulher incrível e fonte de inspiração para outras garotas. Ainda que todo um sistema dê menos valor para os nossos feitos e realizações e muito menos incentivo aos trabalhos femininos em qualquer área, você sempre vai encontrar uma mulher em qualquer atividade. Fazendo com dedicação e se esforçando o dobro (triplo, quádruplo...) para ter o mesmo reconhecimento de um homem. Dessas mulheres, nem todas se reconhecem como feministas, mas tenho certeza de que são muito mais inspiradoras para as novas gerações do que muitas auto intituladas feministas que não conversam com a realidade das pessoas que as rodeiam. E aí, pra que serve o feminismo então?

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Jamais conseguiria dar conta dessa pergunta em um único texto, e nem pretendo. O feminismo é tão plural quanto as mulheres, e nós feministas discordamos muito entre nós (ainda bem, porque eu nunca vi um movimento avançar sem discordância). Mas sei que é um movimento absolutamente indispensável para um mundo melhor, e se chamamos ou não de feminismo é quase um detalhe.

Penso que uma mulher com atitudes feministas transforma muito mais do que uma que "apenas" usa o rótulo. O rótulo é só um rótulo. Não é porque nos dizemosfeministas que de fato o somos. Afinal de contas, até o Dado Dolabella se diz feminista. Para o mundo mudar e as mulheres ocuparem o lugar que sempre lhes pertenceu nós precisamos de atitudes, que podem vir de qualquer uma de nós. E tem muitas por aí quebrando barreiras, sendo exemplo, lutando do seu jeito pelo seu espaço e pelas meninas que ainda virão. Muitas mesmo. E todo meu respeito, amor e admiração por elas. É aí que mora a mudança, não tenho a menor dúvida.

Tendo pontuado isso, devo dizer também que o termo "feminismo" está muito muito longe de estar ultrapassado. Ele segue sendo subversivo ao sistema e, por isso mesmo, tão necessário. É importante sim se dizer feminista. É uma palavra? É, e sozinha não consegue chegar a lugar algum, mas palavras carregam sentidos e história, e a do feminismo traz consigo muita luta do passado. E foi graças a toda essa resistência que pudemos nos dar ao luxo de viver um momento de questionar a validade e a necessidade do feminismo.

As mulheres e os homens seguem sendo tratados de maneiras desiguais. Continuamos discriminadas pelas leis, instituições, pelas pessoas ao nosso redor.E nada disso vai mudar do dia para a noite ou apenas com alguns exemplos no cotidiano. O feminismo é e sempre foi um movimento político e por isso sempre vai ser importante. Nossos direitos não caem do céu, mas são sim fruto de muita batalha contra o status quo. E quem luta para mudar esse status sempre foi alvejada por estereótipos raivosos, tida como mau exemplo ou escória social. Como a síntese da anti-feminilidade, tudo que uma mulher não deve ser. Mas a cada mulher que se diz feminista quebramos um elo dessa corrente.

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Talvez a maior importância de se dizer feminista seja derrubar o mito que cerca a palavra. Quando mulheres comuns vestem esse rótulo, as pessoas ao seu redor deixam de ver o feminismo como algo distante e de gente que não merece nosso carinho. O feminismo vai sendo respeitado, incluído no nosso dia a dia, e paramos de ter medo dele. Porque não é pra ter medo, a não ser que você seja uma pessoa que não vê valor nas mulheres. Nesse caso, estamos aqui pra incomodar mesmo.

Quanto à maioria de mulheres que são feministas mas não usam essa palavra, não há demérito nenhum. Algumas delas nunca ouviram falar de feminismo, outras não vêem relação entre o que sabem sobre ele e suas realidades. O feminismo ainda é demonizado e mal entendido. E por isso reitero: é mais importante ser feminista no dia a dia do que simplesmente usar um termo para se definir.Mas nós precisamos urgentemente perder o medo da palavra.

Ah, os homens nisso tudo? Isso é assunto pra outro texto...

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*Confira o trabalho de Renata Nolasco aqui e aqui.

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