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Cada história é única

Racismo nosso de cada dia

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Por Priscilla de Paula
Atualização:

foto: Pixabay

"Mãe, por que eles fizeram isso comigo?"

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Rossana ainda repete com lágrimas a frase do filho, durante o resgate. Douglas foi baleado por um policial militar num bairro pobre de São Paulo e morreu logo depois de chegar ao hospital.

 

Eu arrepiei quando vi os olhos da mãe cheios de lágrimas, me contando a história durante uma entrevista, como se tivesse acontecido ontem. Faz três anos que ela perdeu o filho, mas a ferida não cicatrizou.

 

Essa deve ser, sem dúvida, a maior dor do mundo. Infelizmente, enquanto escrevo e você lê, é provável que mais algum jovem esteja sendo baleado numa periferia da vida. Afinal, 29 crianças e adolescentes morrem todos os dias de forma violenta no Brasil, segundo dados do novo Mapa da Violência. Daria pra encher um caminhão de sonhos grandiosos desperdiçados. Tão triste.

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Douglas morreu sem ter a resposta. Mas nós sabemos que ele foi baleado porque era negro. E pobre. O menino foi vítima de 'filtragem racial', um termo ainda pouco conhecido, que a ONU está divulgando na campanha VIDAS NEGRAS, da Década Internacional de Afrodescendentes. A filtragem é quando uma pessoa é escolhida como alvo apenas pela cor.

 

O vídeo da campanha, que já começou a circular até pelo WhatsApp é protagonizado pela atriz Taís Araújo, que recentemente deu uma palestra no TEDx (é só dar um google) sobre como criar filhos doces num país ácido como o nosso. Ela tem dois filhos e disse que tem pavor de pensar na realidade do Brasil. "Liberdade não é um direito que ele vai poder usufruir se ele andar pelas ruas descalço, sem camisa, suado, saindo da aula de futebol. Ele corre o risco de ser apontado como um infrator. Mesmo com seis anos!" Taís continua: "No Brasil, a cor do meu filho é a que faz as pessoas atravessarem a rua, blindarem o carro..."

 

E tem gente que ainda acha que pode fazer piada preconceituosa e racista. "...Coisa de preto é manter-se grande diante de quem mata", lembrou Lázaro Ramos, marido de Taís, ao rebater o comentário infame do âncora da Globo.

 

Branca, não sei o que o que é ser vítima de preconceito racial. Mas sou capaz de entender a dor de todas essas mães e famílias e também temo pelos meus filhos. Porque o racismo não prejudica apenas quem é vítima direta. O preconceito, a desigualdade e a violência se voltam contra todos nós. O Brasil é o sétimo país do mundo que mais mata adolescentes, segundo a ONU. Mais até do que o Afeganistão!

 

Pra ter um país melhor para os nossos filhos e poder andar pelas ruas sem medo, a gente precisa eliminar o preconceito, lutar contra a desigualdade, se colocar no lugar do outro, se solidarizar com a dor. Ser capaz de se revoltar com injustiças e pensar: e se fosse com o meu filho?

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*A mudança que a gente quer ver no mundo começa pelo nosso olhar, dentro de nós. Assista e deixe seu comentário aqui.

 

 

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