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Teretetês e conversês

A Greve Geral de Atenas

O que Lisístrata tem a nos ensinar sobre greves?

Por Lusa Silvestre
Atualização:

 

O pau comia na Grécia Antiga. Dois mil e quinhentos anos atrás. Atenas estava bombando, Esparta começou a ficar incomodada, e - noves fora - estourou a Guerra do Peloponeso. Durou 27 anos. Você imagine a encrenca que foi: uma cidade era perto da outra. Só 215 quilômetros, um pouquinho menos do que a distância entre São Paulo e Ubatuba. Era praticamente puxar treta com o vizinho durante 27 anos seguidos; um quarto de século de reunião de condomínio. Pense.

 

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E, muito parecido com o que acontece hoje, a grande bronca estourava na mão das mulheres. Os caras iam lá brigar em Corinto - e sobrava para a mulherada cuidar da casa, arranjar comida, faturar umas dracmas, filosofar escondido, fazer reunião de pais, ficar linda e etecéteras. Tudo isso com dois filhos grudados na perna, porque na Grécia Antiga tinha teatro mas não tinha Discovery Kids. Ah, tendo quem segure em casa é fácil guerrear; até eu viro Aquiles.

 

Mas um dia as mulheres cansaram - segundo o que conta Aristófanes. O quê? Eles lá se enchendo de sidra no acampamento por 27 anos, e a gente aqui suando o biquini? E quando os caras voltam pro findi, ainda tem que fazer a Afrodite? Nem pensar! E resolveram pôr um fim à essa festa usando o bem mais valioso que tinham: seus corpos. Decretaram greve de sexo, sob a liderança da Lisístrata - que já era sindicalista sem saber. Enquanto houvesse guerra não haveria vuco-vuco. Aqueles soldados todos de espada na mão teriam que ser virar manualmente mesmo.

 

Rapaz, queria estar lá pra ver. Os bravos guerreiros perderam toda a ousadia. Perderam a força, a concentração, a alegria, o viço, a masculinidade. Não tinham a mínima vontade de matar o outro, um absurdo. Mal comiam, choravam baixinho a noite toda, feito coiote. Sem que o combatente pudesse viver sua macheza por completo, a guerra perdeu o sentido. E acabou.

 

Estou contanto isso porque não me parece que greve de trabalho funcione. Trabalho é um troço chato, vamos combinar. Até os astronautas acham sacal. Pra não parecer feriado, o grevista tem que ir lá na Paulista balançar bandeira - e isso dá uma canseira de enfraquecer republicano. Ao mesmo tempo, greve é um instrumento importantíssimo. Só que, pra dar certo, a paralisação tem que miguelar algo essencial, algo mais importante que o trabalho. Vamos então raciocinar como Lisístrata. O que ela faria?

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Lisístrata faria um apelo aos homens e mulheres que estão por aí, transando desenfreadamente com nossos políticos. Simplesmente parem. Não importa se é esposa, marido, amante, concubina, michê, o que for: parem de transar com os seus políticos de estimação até eles tomarem tento. Até se tornarem pessoas decentes. Negue até beijinho e massagem no pé. Abraço pode - desde que seja batendo a mãozinha nas costas, coisa de madrinha. Se der pra desconectar o Netflix também, melhor.

 

Tempos de desespero pedem medidas desesperadas.

 

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