Vida real: -Puta-que-pariu-por-que-ela-não-dorme-nunca?! Meu Deus, por quê? Por que?! Ela tem alguma coisa, alguma síndrome do bebê que não dorme e não deixa dormir. Pesquisa aí no google. Deve ser uma doença rara. Ou então é uma maldição mesmo. Estamos condenados. O inferno de Dante: tenho a cama, o sono, a noite e uma diabinha linda urrando na minha orelha. Até o fim dos tempos. Deve ter sido aquela vez em que brigamos ainda grávidos. Ou aquela taça de espumante que você tomou lá pro sexto mês de gravidez, no ano novo. Foi isso. Um pequeno deslize e nunca mais iremos dormir. Já sei, batismo! Precisamos batizar, esse choro é fúria divina, uma praga.
Trilha Sonora: https://www.youtube.com/watch?v=hignzKHphvQ
Lágrimas, berros, birras, dor, cansaço, desespero e quinhentas e trinta e duas acordadas por noite. Essa é nossa rotina, insoninha. Em uma dessas noites, havia tempestade e relâmpagos lá fora. "Barulho, vão (trovão), não quero, medo", você disse. Eu tentava te acalmar quando mais um trovão estourou levando embora a luz. Liguei a lanterna e você, minha sonâmbulinha, imediatamente se encantou com a sombra enorme na parede que a luz da lanterna fez. Se acalmou. Papai, mamãe e você - os três debaixo das cobertas - brincavam de usar as mãos sob a lanterna para simular animais na parede de nossa caverna. Como não detenho essa habilidade, apelava para mutante-dinossauro-monstrengo "uaaarrrghh" e você ria. De vez em quando, pintava um quase "au-au" e a óbvia pombinha da paz. Apesar do repertório reduzido de animais, a brincadeira durou horas.
Fosse "expectativa/ seriados de tv", a câmera se distanciaria, os créditos subiriam e assim, encerraríamos a noite felizes e ansiosos pelo dia por vir. Mas era vida. E logo, lágrimas, berros, birras, dor, cansaço, desespero e quinhentas e trinta e duas acordadas vieram.
Amor insone,
papai. 26.05.16