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Um blog de pai para filha

Porquê, Por que, Por quê, Porque? Pq sim!

Arte: André Bonani

Por Victor Sá
Atualização:

Junto com musiquinhas, berros, historinhas e birras, uma grande novidade: o porquê.

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O fenômeno do questionamento chegou meio que devagar, abelhinha. Primeiro, você quis saber o porquê da Lua nunca aparecer ao lado do Sol. Seriam eles brigados? Depois, por que comemos as sementes de algumas frutas e de outras não? E por que banana não tem caroço? (Essa eu demorei uns 29 anos para aprender e é mais complicado do que parece).

Agora, percebi, o porquê veio pra ficar. Super saudável, obviamente. A curiosidade é algo quase sagrado. Apoio total. O que incomoda, é a completa ausência de respostas que tenho a lhe oferecer, minha gatinha. Até você me bombardear com perguntas, ignorava minha ignorância.

trilha sugerida: https://www.youtube.com/watch?v=PnZu9GGFw8k

Basicamente, algumas poucas coisas eu sei. Outras não tem mesmo nenhum porquê, simplesmente são. E todo o resto, eu não tenho a mais puta ideia. E esse resto é essencialmente tudo que nos envolve e que - ao virarmos adultos - paramos de questionar. Apenas aceitamos o "porque sim" e seguimos.

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Por exemplo, escrevendo esse texto, notei as mil maneiras possíveis de escrever "porquê". Pode ser junto, separado, com acento, sem acento. Por quê? Não sei, amorinha. Não sei. São muitas as regras. Tem gente que simplifica tudo e escreve apenas "pq" para todos os casos. Resolve. Afinal, se o senhor que adora latim e declamar mesóclise durante banquetes pode usar PECs para Propostas de Emenda à Constituição (que irão dificultar e muito a vida), por que não poderíamos simplificar tudo com um belo "pq"? Infelizmente, muitos não gostam do "pq", então você pode sempre, assim como eu, recorrer a mamãe que manja tudo sobre isso. Se ela não puder ajudar, ta aí o bom e velho google. O que me leva a outra questão:

Como te explicar que é possível quase toda produção cultural da humanidade caber em um aparelhinho que levamos no bolso? Falam que muita coisa fica salva em uma "nuvem". Pois é, também não tenho ideia de como é isso. As nuvens do céu, diferentes dessa outra, eu até sei explicar. Se não mudou desde o que aprendi na escola, faz parte do ciclo da água que envolve os três estados, aquela onda toda. Agora, essa nova nuvem, essa é mais complexa. Pelo menos, não precisarei te explicar a mágica de um fax.

Também não sei nada sobre o tal capital especulativo. Tem todo um papo de dinheiro que não é físico. Eu não sei como isso é possível. Na verdade, tenho uma dificuldade tremenda com coisas não visíveis e com economia/dinheiro. Não fecha na minha cabeça o tamanho do lucro dos bancos mesmo nas piores crises. Ou então, por que topamos, nós todos os adultos, doar dinheiro aos bancos assim, meio que de graça, por inércia. Pegamos nosso salário e colocamos lá. E então, quando precisamos de uns trocados, por algum motivo, eles podem simplesmente negar ou cobrar juros absurdamente altos. E todo mundo aceita como normal! Essa matemática nunca entendi. Sem falar na história toda de inflação, bolsa de valores, preço do dólar. Essas coisas pra mim são conceitos distantes, quase indecifráveis. É, papai é um tanto besta, verdade. Talvez se eu entendesse dessas coisas, conseguiria te explicar a maldita pirâmide, tão poucos com muito e muitos com tão pouco. Mas, não. Não sei mesmo como te explicar.

Nota que do "por que é que o céu é azul?" até chegaremos a "grande fúria do mundo" é rapidinho? E papai, não tem lá muito mais que oferecer além dessas croniquetas e outras poucas groselhas. Portanto, na dúvida, formiguinha, abrace a dúvida. Abrace com muita curiosidade. Você vai perceber que quanto mais aprender, mais dúvida vai pintar. E não tenha medo de não saber, já tem gente demais com certezas demais por aí. É o que posso te dizer. É muito pouco, isso eu sei.

Amor, Papai. 13.10.16

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