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Um blog de pai para filha

Bem-vinda ao clube

devo confessar, apesar dos meus esforços, você nunca deu muita bola para o tricolor do Morumbi. Pelo contrário, papai insistia e sempre ouvia “Eca!” como resposta. Uma vez, você chegou até a verbalizar claramente, “Eca, papai. Não quero São Paulo, papai. Sai!” Eu fingi não me abalar, porém algo em mim morreu naquele momento.

Por Victor Sá
Atualização:

Querida mascotinha,

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A partir de hoje, tudo pode dar certo! Mais do que nunca, o time da fé é o time da fé! E a moeda cairá em pé! Você deve estar se perguntando o motivo para tanto otimismo e exclamações, minha tricolorzinha. Será por causa da vitória ontem? Ou pelo fim do jejum absurdo do Kardec? Ou terá sido a boa estreia do Cueva? Não, minha Gansinha, nada disso. Ontem o dia será marcado por outro motivo muito mais importante.

trilha sugerida: https://www.youtube.com/watch?v=j91NXiijeQk

Veja, desde que soube de sua vinda, tenho feito de tudo para impor a paixão tricolor em seu coraçãozinho, né Luganinha? Eu sei, dizem que amor não pode ser imposto assim. E que nada floresce de imposição e força. Verdade, mas papai não consegue se conter. Essa é a única pauta que não está em discussão. O resto, pretendo respeitar tudo, prometo. Mas quanto a isso...

Desde seu primeiro dia você tem pijaminha do São Paulo, roupinha, babador, bolinha, ursinho, a coisa toda. Por muito pouco, você escapou de se chamar Raigéria (Raí + Rogério), ou Aloricy (Aloísio + Muricy), ou simplesmente Telê. Na verdade, agradeça a mamãe por essa.

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Mas devo confessar, apesar dos meus esforços, você nunca deu muita bola para o tricolor do Morumbi. Pelo contrário, papai insistia e sempre ouvia "Eca!" como resposta. Uma vez, você chegou até a verbalizar claramente, "Eca, papai. Não quero São Paulo, papai. Sai!" Eu fingi não me abalar, porém algo em mim morreu naquele momento.

Você ignorou a eliminação nos pênaltis para o Cruzeiro na última Libertadores com o Rogério-Mito-Ceni em campo. Passou batida também por todos os gols do Calleri e até os do Lugano. Não se comoveu com o Maicon pegando no gol em uma classificação heroica/histórica para as oitavas. E nem tchum para o decisivo gol do Michel Bastos contra o Atlético que nos levou à semi. Ainda teve gols importantíssimos do Rogérinho, "Neymar do Nordeste" (aqui ênfase nas aspas, ok?), e você nada.

Chegou ao absurdo de simplesmente dormir no meio de jogos decisivos e me forçar a inventar um novo tipo de comemoração silenciosa. É quase que uma convulsão, papai fica esmurrando o ar e se contorcendo sem emitir um pio e garantir seu sono tranquilo. Um espetáculo bem feio, admito.

Mas tudo isso é passado. Depois de mais de dois anos de insistência, vitórias, derrotas e tantos jogos acompanhados pela tv e rádio, ontem, finalmente tudo fez sentido. Quis o destino que fosse durante um jogo "xoxinho, xoxinho"(suas palavras). Um São Paulo e Fluminense pelo Brasileirão às vésperas de uma semifinal de Libertadores. Ou seja, ninguém ligando muito para o jogo que reuniu pouco mais de dez mil torcedores no Morumbi. Time misto em campo.

Nós ouvíamos pelo rádio. Fosse um mundo ideal, esse momento teria sido trazido pela voz do vovô que foi o melhor do narrador de futebol que já existiu. Mas o vovô não brinca disso há muitos anos e ouvíamos o lendário José Silvério contar que o estreante Cueva cobrou um escanteio estranho, rasteiro. A bola desviou no Kardec e sobrou para o jovem João Schmidt que chutou com confiança pras redes. E nesse momento, você ergueu os bracinhos e gritou junto comigo "Goooooooool, do São Paulo!!!" Ambos pulávamos e gritávamos!

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No fim do jogo, o Ganso saiu machucado e provavelmente desfalcará o time na decisão da Liberta. Em qualquer outra circunstância, uma catástrofe. Mas hoje, não estou preocupado. O novo e mais importante reforço tricolor chegou. E o maior título agora eu já tenho, minha são paulininha.

Amor tricolor, Papai.

30.06.16

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