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Impressões sobre a vida e seus arredores

Este ano juro que...

Se vocês me deixarem ver as listas de vocês, mostro a minha

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Por Raul Drewnick
Atualização:

Neste primeiro dia de 2016,creio que ninguém estranhará ou protestará se eu divulgar aqui uma lista de promessas para o ano, como provavelmente os leitores também estão fazendo. Por exemplo:

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Parar de fumar, ainda que isso seja o fim do meu sonho de fazer belos desenhos e graciosas letras, maiúsculas e minúsculas, com a fumaça.

Nunca mais beber uma gota de álcool, mesmo que o drinque seja oferecido por Scarlett Johansson num sonho em que estejamos a sós, ela e eu, num apartamento no qual, antes ou depois, seja possível ver Nova York ou, quem sabe, Paris.

Não fazer mais poesia, embora eu ainda às vezes insista em ver em jornalecos antigos alguma indicação do destino nos recortes de sonetos meus, tão acusadoramente metrificados e rimados. De um deles um amigo disse (sorte dele eu não me lembrar do seu nome) que era puro Bilac.

Não me importar com futebol, este ano. Ignorar torneios e campeonatos, copas e taças. Quem me diz que eu preciso me manter fiel a um time por setenta e sete anos, só porque fui fiel por setenta e seis? Ao diabo com São Jorge, ora, por que não? Chega de pesadelos com Guaranis e Tolimas. Acompanharei só o tênis e o voleibol.

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Analisando as possibilidades que tenho de cumprir as promessas, digo (e aqui está um truque sujo) que seria fácil parar de fumar, se eu já não tivesse feito isso há muitos anos (talvez por nunca haver conseguido, em toda a minha carreira de viciado, desenhar nem uma casinha com chaminé nem formar letras com a fumaça).

Abster-me do álcool (e aqui confesso mais um truque) também é, para mim, uma façanha tão antiga que eu precisaria consultar arquivos do século passado se quisesse dizer a data exata em que deixei de andar pela rua como se fosse o Garrincha, driblando tudo e todos.

Parar de fazer poesia não é tão difícil, igualmente. Os poemas (!!!) que costumo escrever em nome de uma vocação mentirosa são tão antipoéticos que continuar a fazê-los não deixaria de ser uma forma de não fazer poesia.

Minha reabilitação futebolística, ah, essa há de ser uma goleada. Sei bem como agirei. Quando na tevê aparecer algum indício de jogo, resistirei, ainda que esteja começando uma decisão por pênaltis. Adeus, campeonato espanhol, campeonato italiano, campeonato alemão. Adeus, Fla-Flus e Grenais, adeus, San-Sões e Come-Fogos. Adeus, clubes de todo o mundo. Adeus, time alvinegro do meu coração e dos meus sofrimentos. Adeus, palavra querida de onze letras. Adeus, anglicismo a berrar nos desertos da América.

 

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