Depois da aula, Carlinhos saiu da sala caminhando ao lado da professora Zelda, na escada que levava ao pátio. Estava ansioso para falar com ela. Havia passado e repassado várias vezes o que ia dizer, mas o receio de falhar fez tremer sua voz:
"Posso fazer uma pergunta, professora?"
"Não entendi", ela respondeu, porque, além da voz trêmula de Carlinhos, era grande o burburinho ao redor.
"Posso fazer uma pergunta?", ele repetiu.
"Você já fez, não é?" ela sorriu.
Isso deixou Carlinhos ainda mais nervoso, mas ele reagiu rápido:
"Posso fazer outra?"
"Claro, Carlinhos."
"Carlos."
"O quê?"
"Carlos", ele insistiu.
A professora achou graça. Estava habituada àqueles surtos de autoafirmação nos alunos. O rosto do menino de doze anos parecia ter envelhecido, e ela por um momento imaginou, divertida, que de repente surgiria um bigodinho para completar a transformação.
"Zelda", ele conseguiu dizer, "você acha que a idade é importante no amor?"
Zelda? Você? A professora já não sabia se achava aquilo engraçado ou se cobrava modos do garoto. Que falta de compostura era aquela?
"Acho que não entendi a sua pergunta, Carlinhos. Você quer saber se a diferença de idade é importante no amor, é isso?"
"Isso, Zelda."
"Eu acho que não. As mães amam seus filhos, as avós amam seus netos, e eles..."
"Carlinhos impacientou-se:
"Zelda, eu não estou falando desse tipo de amor."
Já adivinhando o passo seguinte, a professora acelerou os passos na direção do estacionamento. Acionando o alarme, abriu a porta do carro:
"Podemos continuar a conversa amanhã? Estou atrasada. Vou almoçar com o meu marido."
Essa palavra, marido, contundentemente adulta, derrubou a coragem de Carlinhos:
"Tudo bem. Era só uma curiosidade boba. Até amanhã, professora Zelda."
"Até amanhã, Carlinhos."