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Um manual prático para desastrados

No minuto dois da faixa três de um disco antigo

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Por Gilberto Amendola
Atualização:

Preso no minuto dois da faixa três de um disco antigo de uma banda que já não existe mais. Na cabeça sonhos de moleque besta e a vontade de sair da casa dos pais.

Preso no minuto dois da faixa três de um disco antigo. Cabelo no ombro, headfone que isola da vida real e medo zero de atravessar distraído a avenida perigosa.

Preso no minuto dois da faixa três de um disco antigo.

A garota mais bonita, a filha do vizinho e um paixãozinha que ficou pra trás.

Aquela sensação de quem sem ela nada importa e a vontade de morrer quando ela foi embora.

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Preso no minuto dois da faixa três de um disco antigo.

Punhos cerrados, palavras de ordem e a bandeira de um ideal. Mudar o mundo era como trocar as meias ou rabiscar um haicai na porta do banheiro da facu.

Preso no minuto dois da faixa três de um disco antigo. E o país estrangeiro que se queria conquistar, com os amigos novos, de uma cultura diferente e sem horário pra voltar.

Preso no minuto dois da faixa três de um disco antigo.

Sem saber do que era feito uma ressaca,

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nenhuma droga malhada

e o riso na cara do policial.

Preso no minuto dois da faixa três de um disco antigo.

O dia amanhecendo, o cheiro de álcool

e ela dizendo que sem você não dava pra continuar.

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Preso no minuto dois da faixa três de um disco antigo.

Os amigos aplaudindo um sol que morria num horizonte qualquer.

E você chorando sem tristeza, achando que valia a pena e sempre seria assim.

Preso no minuto dois da faixa três de um disco antigo.

Não tem dinheiro que pague e outras banalidades que o rock nos ensinou.

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Tudo vai dar certo, tudo vai dar certo, tudo vai dar certo como num mantra escrito por um Buda gordo de tanta cerveja e fritura.

Tudo ia dar certo, tudo ia dar certo, tudo ia.

Quando você ainda estava preso no minuto dois da faixa três de um disco antigo

De uma banda que já não existe mais.

 

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