Eu adoro coincidências. Existe um livro, cujo nome não me recordo, em que o autor se dedica a estudar esses fenômenos tão interessantes - mesmo que sejam ao acaso, eles exercem fascínio sobre nós, que queremos encontrar uma razão para elas. Afinal, como disse Poincarè, o acaso é só a medida da nossa ignorânica.
Mas estou divagando. A coincidência que me chamou atenção é que na semana passada comecei a assistir o seriado Acumuladores, na Discovery Home & Health, sobre pessoas que sofrem com hoarding, aquela condição na qual existe uma necessidade incontrolável de ajuntar coisas, levando as pessoas a transformar suas casas num verdadeiro lixão inabitável (já falamos um pouco disso em outro post); coincidentemente, acaba de ser apresentado um novo estudo sobre o tema, ligando o hoarding à obesidade.
Na conferência anual da Associação Americana de Transtornos Ansiosos pesquisadores apresentaram um estudo no qual 12 acumuladores graves foram avaliados quanto à gravidade da condição e ao índice de massa corpórea. Praticamente todos (98%) apresentavam obesidade ou sobrepeso, índice bem acima da média dos bairros vizinhos (61% - o que já não é pouco, cá entre nós). Foi identificada ainda uma tendência de correlação entre a gravidade do acúmulo e a obesidade, embora a amostra tenha sido pequena para estabelecer uma relação definitiva (estatisticamente significante).
Assim como eu, ou autores não acham que é coincidência. Mas eu pensei em uma explicação diferente para o fenômeno. Os pesquisadores acreditam que, por viverem isolados do contato social em razão das suas péssimas condições de vida, tais pessoas substituiriam o prazer e a gratificação dos relacionamentos saudáveis pela comida, ficando obesas. É uma hipótese. Mas será que o impulso de guardar objetos de forma exagerada porque um dia eles "podem precisar" (explicação muito comum dada pelos pacientes) não pode ser o mesmo impulso por guardar calorias, acumulando energia para um tempo em que ela pode ser necessária? E da mesma forma como nunca chega o dia em que os objetos são usados, transformando a "poupança" num monturo, o fácil acesso à comida nunca deixa a energia acumulada ser queimada, tranformando-a em pura gordura. É outra hipótese, e mais dia, menos dia, acabará sendo testada.
Agora, no fundo, no fundo, também não acho que o fato de esse problema ser aparentemente mais comum nos EUA, onde existe uma clara cultura de consumo, seja só coinciência.