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Psiquiatria e sociedade

Opinião|Moana da Disney adverte: não ignore seu chamado

Moana, a princesa polinésia da Disney traz um alerta fundamental para esse início de ano: não ignore seu coração.

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Atualização:

fonte: divulgação Foto: Estadão

Ouvir nosso coração pode não garantir a felicidade, mas ignorá-lo é um caminho certo para insatisfação. Não sei se os roteiristas da Disney sabiam que isso já foi cientificamente comprovado, mas deram esse recado na nova animação, Moana.

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Prometo não dar nenhum grande spoiler, mas se você não gosta de conhecer nada da trama antes de ver filme pode pular esse parágrafo e o próximo. Moana é a filha do chefe de uma tribo polinésia, moradora de uma ilha de pessoas felizes e satisfeitas. Ela se inquieta, no entanto, pois tem o desejo de ir para o mar aberto, explorar o oceano, algo proibido para eles. Mas quando os peixes começam a morrer, as frutas a secar, sua avó explica que o coração da deusa da natureza, Te Fiti, roubado pelo semideus Maui, precisa ser devolvido para vida voltar a florescer. Moana descobre então que seus antepassados eram um povo de navegadores e acaba - literalmente - embarcando numa jornada cruzando o oceano.

Quando se lança ao mar, apesar de todos os perigos, ela sente finalmente cumprir seu propósito. Da mesma forma, seu povo, ao retomar sua natureza exploradora reencontra a vida que vinha minguando. São ambos como Te Fiti, que apenas quando tem seu coração devolvido deixa de produzir morte para voltar a ser criadora. A mensagem é uma só: individual, coletiva e até globalmente, afastar-se de nosso coração é se afastar da própria vida.

Nem todo mundo tem clara a sensação de um chamado, um dom na vida. Mas quem tem, a melhor coisa a fazer é ir atrás dele, sob risco de prejudicar seu bem-estar e até sua saúde. Em 2015 dois pesquisadores da Universidade da Flórida entrevistaram 378 voluntários, perguntando se eles reconheciam em si mesmo um chamado e se estavam sendo capazes de segui-lo. Aplicaram então diversos questionários sobre satisfação com a vida, com o trabalho, sobre a saúde física e mental. Encontraram três grupos: dois grupos com propósito - os que o seguiram e os que não o seguiram -, e também pessoas que nunca ouviram o tal chamado. Os resultados mostraram índices de satisfação com o trabalho e senso de realização melhores nos sujeitos alinhados com seus dons do que entre os nos "sem-chamado". Mas ambos eram melhores do que as pessoas sentindo-se longe de seus propósitos. Essas tinham ainda mais sinais de estresse e pior saúde geral.

Esse começo de ano é sempre um bom momento para repensar a vida. Nem sempre é possível trocar de emprego ou arrumar um trabalho novo. Mas quem disse que é só no trabalho se pode ter realização? Os hobbies, o lazer e até o voluntariado são excelentes formas de se responder àquela voz que não nos deixará em paz enquanto não nos lançarmos ao mar.

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Gazica, M., & Spector, P. (2015). A comparison of individuals with unanswered callings to those with no calling at all Journal of Vocational Behavior, 91, 1-10

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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