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Psiquiatria e sociedade

Opinião|Em defesa da esperança - como esperar (e agir para) que 2018 seja melhor

Você está otimista para 2018? Não deveria. Melhor seria estar esperançoso.

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 Foto: Estadão

Antes da festa de ano-novo é bom reforçar algo que provavelmente você já sabia, mas foi cientificamente comprovado: não existe forma de prevenir nem tratar a ressaca. Ah, e vale lembrar que dormir mal nos deixa menos atraentes. E também que comer peru não causa sonolência. Todas essas pesquisas foram publicadas ao longo dos últimos anos na prestigiosa científica British Medical Journal (renomeada BMJ), em sua aguardada e disputada edição de Natal. A revista, cujo fator de impacto passa dos vinte (ou seja, as pesquisas que ela publica são citadas em média por outras vintes pesquisas, o que dá a medida de sua importância), reserva um fascículo por ano, na época natalina, para artigos que, embora rigorosos, sejam também leves, bem humorados ou que de alguma forma carreguem o espírito das festas.

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Esse ano a edição comemorativa publicou um editorial encabeçado pelo colega psiquiatra brasileiro Rodrigo Affonseca-Bressan com o sujestivo título Hope is a therapeutic tool (algo como Esperança é um instrumento terapêutico). Realmente propício para o momento.

Diferente do otimista, que acredita que o melhor irá acontecer, o esperançoso acredita que o melhor pode acontecer. E exatamente por não dar o resultado positivo como favas contadas ele se coloca em ação, fazendo o que precisar para aumentar a chance de alcançar sua meta. O otimismo pode até ter o efeito oposto - lembremos o que aconteceu com a lebre na disputa com a tartaruga. O pessimismo, então, nem se fale. Não se trata, portanto, da crença inocente de que tudo sempre dará certo; tampouco da irreal expectativa de que tudo dará errado. É a noção de que existem estratégias a serem colocadas em marcha por nós mesmos, as quais podem influenciar positivamente em nosso destino.

Os autores citam exemplos de como a esperança pode ser útil em casos de doenças crônicas, como asma e até esquizofrenia, e por isso destacam seu papel terapêutico. Ressaltam, então, que a capacidade de transmitir esperança - não falsas expectativas, veja bem - pode e deve ser ensinada aos médicos. Afinal, quando estamos doentes existem duas coisas que queremos saber: o que está acontecendo conosco e se há esperança. Ou seja, se há algo que devamos fazer que possa ajudar no tratamento.

Mas a dica não vale só para profissionais da saúde. Todos nós queremos ter esperança no ano novo. A cada Réveillon desejamos que o ano que entra seja melhor em alguns (ou vários) aspectos. Então fica a lição: não basta ser otimista. É preciso ter esperança - aquilo que nos faz acreditar que algo é possível, definir estratégias e começar. Ou, como disse Paulo Freire, "temos mesmo é de esperançar".

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Feliz 2018 a todos!

Bressan RA, Iacoponi E, Candido de Assis J, Shergill SS. Hope is a therapeutic tool. BMJ. 2017 Dec 13;359:j5469.

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Leitura mental

 Foto: Estadão

Quando o marido de Helen Russell foi contratado para trabalhar no interior da Dinamarca, no escritório central da Lego, ela decidiu transformar a experiência - que em princípio deveria durar um ano - numa investigação jornalística. Queria descobrir por que esse povo vem, há quarenta anos, sendo considerado o mais feliz do mundo. Em O segredo da Dinamarca (editora Leya), ela nos conta o que conseguiu apurar. Dividido em doze capítulos, um para cada mês de seu primeiro ano na Escandinávia, Russell mostra que embora esse recorde de satisfação tenha muito de cultural, existem várias atitudes simples que podemos importar da Dinamarca para tornar nosso dia-a-dia mais feliz. E sem ter que encarar meio ano de frio congelante.

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Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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