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Opinião|Timeline de uma vida

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Atualização:

Sobre sonhos e pesadelos.

 Foto: Estadão

(Foto: Carlos Castelo)

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Sempre que acompanho apurações perco o sono. Na da eleição norte-americana não foi diferente. Deitei-me, liguei a TV e não encontrava mais os braços de Morfeu.

Usei então um estratagema. Pensar na timeline da minha vida, isso sempre me ajuda a relaxar.

Comecei recordando que fui às manifestações pela anistia, depois pelas diretas. Nosso grupo musical subiu em palanques para apoiar ambos os movimentos.

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Cantei no mesmo palco ao lado de Chico Buarque, Fagner, Dominguinhos, Paulo e Chico Caruso, Cláudio Paiva e Reinaldo Figueredo contra o apagão promovido pelo general Newton Cruz em Brasília.

Fui missivista e aprendiz do escritor João Antônio.

Escrevi um livro de crônicas anti-neoliberalismo no segundo mandato de FHC. Soube de fonte segura que dona Ruth comprou a obra numa livraria da avenida Paulista e a levou debaixo do braço pro marido ler no palácio.

Entrevistei inúmeras personalidades, entre elas Oscar Niemeyer e Augusto Boal.

Chamei uma vez ao palco do teatro Lira Paulistana o Tom Zé - completamente esquecido em seu período pré-David Byrne - e ouvi bocejos da plateia.

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Presenciei o Woody Allen tocando clarineta no Elaine's a 10 metros da minha mesa.

Conversei algumas vezes ao telefone com Fernando Sabino, meu colega de crônicas no Estadão.

Participei de uma final de festival da Globo e ouvi o fragor de um Maracanãzinho lotado vaiando a nossa provocativa canção .

Durante essa estada no Rio disse, ao vivo, para a repórter Glória Maria que a piscina do hotel era melhor que o festival.

Cantei "Flor de Lis", do Djavan, para uma plateia de anarquistas bêbados num bar do bairro de Gobelins em Paris.

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Tive alguns casamentos, quatro filhos, visitei mais de uma dúzia de países como jornalista ou turista.

Cobri uma maratona de Nova York, conheci os Himalaias, Kumari, a deusa-viva do Nepal, subi a torre Eiffel pelas escadas, voei de "montgolfière" em Beaune.

Ganhei uma fotografia de presente do Sebastião Salgado, um quadro do Francesc Petit, o P da DPZ.

Fui duas vezes ao Programa do Jô e uma no do Clodovil - que perguntou se eu era bom de cama.

Dividi o camarim do Faustão com Beto Carrero e a baleia Orca.

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Trabalhei como eletricista, continuísta e assistente de direção no cinema da Boca do Lixo paulistana.

Sentei em mesa de bar com Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho, Paulo Coelho (nem tudo é perfeito).

Estou certo que vi, num café em Manhattan, no inícios dos anos 1990, a Ingrid Bergman, bem velhinha, enrugada e de touca. E, quando a reconheci, ganhei de volta uma piscadela de olho.

Próximo à meia-noite, Hillary voltou à dianteira. Foi quando adormeci.

Logo sobreveio o horrível pesadelo. Sonhei que Ozzy Osbourne tinha sido eleito presidente dos Estados Unidos. E, aquele mundo, cujo homem mais poderoso era um ex-Black Sabbath, tornara-se totalmente inabitável.

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Acordei suando em bicas e o noticiário na TV dava que Donald Trump já era o virtual presidente.

A vida sempre pode ser mais heavy metal que os pesadelos.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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