Poesia engraçada para tempos aborrecidos.
QUADRILHA João roubava Iná que roubava José Que roubava Maria que roubava Joaquim que roubava Lili Que não roubava ninguém, só o Fisco João foi pra Pedrinhas, Iná pra Bangu José morreu na praia, Maria delatou Joaquim matou-se e Lili casou com o dono de um frigorífico
COMIDA MICROBIÓTICA Olha o marisco Com vibrião Olha o bacilo Na refeição
Naquele pasto Tem maculosa Naquele bife Febre aftosa
Jantou um pato? Antipirético Se comer gente Fica aidético
Triste destino Esse do Homem Condenação Pelo o que come
RESUMÉE Aos 5, lúdico Aos 14, tímido Aos 18, lépido Aos 20, Trótski Aos 30, trêfego Aos 40, tático Aos 50, cínico Aos 60, cético Aos 70, próstata Aos 80, módico Aos 90, fúnebre
PROVÉRBIO BRASILEIRO Dê duro enquanto eles dormem Estude enquanto eles dançam Persista enquanto eles bebem Um dia, você consegue Ser mais um desempregado
INCOMPATIBILIDADE POÉTICA Tentei botar nosso amor Num soneto genuíno E fui lapidando os versos No formato alexandrino
Mas ora vejam vocês Por causa da estrofação E de algumas rimas pobres Tive que usar da elisão
Mas não gostei de antemão E mudei os decassílabos Para um metro diferente: Dodecassílabos sáficos
Ai, que destino mais trágico Isso gerou uma aférese Pra não falar de uma apócope - Eu quase tive uma síncope!
O jeito foram os dísticos E meu canto de momento Perdeu a espontaneidade Em novo encadeamento
Então tive um pensamento: "Falando em termos poéticos Ou mesmo trovadorescos O nosso amor é inviável"
Uma saída possível Mas me recuso, sou franco Seria deixar o metro Adotando o verso branco
Porém, um soneto manco Falta de talento acusa Por isso, amor, me despeço E vou atrás de outra musa
PRETINHO BÁSICO Comprou um pano pretinho Mandou fazer um tubinho Mas nada de extravagante Nenhuma manga bufante
Só muito fino e habillé Como a moda deve ser Em cima vêm as alcinhas Apenas duas tirinhas
Atrás do costume reto Um decote bem discreto A peça finalizada Pede um colar e mais nada
(mas vale estar maquiada)
Desfilando a criação Será centro da atenção Mesmo vestida igualzinha Às amigas patricinhas
SONETO DA ELETRICIDADE De tudo ao meu computador serei atenta Antes, e com tal zelo, e sempre e de modo tão terno Que mesmo diante de um modelo mais moderno Dele serei sempre a tiete mais sedenta Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de pagar as contas da Light Que alimenta os seus megabytes Sem nenhum pesar ou descontentamento E assim, quando mais tarde, num outro dia Quem sabe a assistência técnica, Angústia de quem vive, Pedir pelo seu conserto uns 800 paus Eu possa dizer do computador (que tive) Que não seja imortal posto que é fabricado em Macau Mas que seja infinito enquanto dure a garantia