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Opinião|Outros carnavais

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Atualização:

Carnaval do tempo em que os Novos Baianos eram mais influentes que o Doi-Codi.

 Foto: Estadão

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(Foto: Carlos Castelo)

Aquelas de passar o carná numa cidadezinha praiana de Sergipe, sabe? Moda no passado hippie que cada um, com mais de 40 segundas-feiras gordas, já teve na existência.

Não fui diferente de você, amigo follower. Para exceder a experiência resolvi ir de São Paulo ao local de ônibus. Foram 52 intermináveis horas de desconforto, dores lombares, insônia e ingestão de alimentos vetados pela Anvisa. Sem contar o atolamento do coletivo na cidade de Belo Jardim, Pernambuco. Todos os sete ocupantes precisaram apear e empurrar o veículo durante mais de um quilômetro. Não estava mencionado nada no contrato sobre apoio mecânico feito pelos próprios passageiros, mas é uma prática comum nas raras vezes em que chove por ali.

Suado e melado de barro até as axilas baixei em Santa Rita do Grelo Adentro. Era o tempo em que os Novos Baianos eram mais influentes no Brasil que o Doi-Codi e o Delfim Netto juntos.

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Chegando lá, depois de tomar um longo banho de barrica, me deparei com tanto maçunim e patinha de siri, que acabei me lambuzando todo novamente. Inclusive de cerveja gelada e aguardente.

Ali pelas quatro da manhã, no meio da praça e do triozinho elétrico, me vieram uns gases tão violentos que, se engarrafassem, o país não precisaria mais importar metano da Bolívia.

Do WC já me transportaram direto pro PS em estado pré-comatoso. A pressão estava mais baixa que uma piada do Costinha.

Lá fui atendido pelo doutor Belisário. Criatura ímpar: o primeiro esculápio cego e, ao mesmo tempo, bêbado que conheci até hoje. Lembrava um pouco o Renan, só que uns 15 anos mais velho, de cavanhaque e manco. 

Doc Belisário apalpou com grande atenção minhas tripas, o bafo de cigarro estoura-peito e de Pitu era terrível até para os estômagos mais fortes.

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Em seguida mandou eu dizer 33 umas 33 vezes.

Por fim perguntou já emitindo o diagnóstico:

- Estás com andaço, rapaz?

Não entendi. Ele teve que traduzir:

- Estás obrando mole e soltando traque?

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Tive que admitir que, para um médico deficiente visual e mais ébrio como um personagem do , foi um diagnóstico excelente.

- Pois então passe na farmácia e compre elixir paregórico.

- Tome 40 gotas antes de ir pros bailes.Antes de sair, quis saber se devia parar de beber.

Dr. Belisário soltou uma gargalhada mefistofélica.

- Carnaval sem cana é lá Carnaval, seu menino? Interrompa só a cerveja. Beba uísque puro. Se quiser gelo, repare se não tem serragem por riba das pedras. E vá dançar, caboclo, ande!

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Foi a primeira e única vez que segui à risca uma consulta médica.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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