Keyla e Silvestre estavam na estação Cidade Universitária da CPTM. Iam ao Ceasa comprar flores para o aniversário de Camila. Tinham pensado numa festa diferenciada para a filha, afinal de contas não se faz 15 anos todo dia. O trem, como sempre, entrara em modo lento inexplicavelmente. Uma voz feminina nos alto-falantes informava que a próxima composição demoraria sete minutos para chegar à plataforma.
Silvestre estava sentado num dos bancos ao lado de Keyla. Resolveu levantar-se para se estirar um pouco. Deu uma voltinha, mirou os trilhos, bocejou e quando tencionava voltar, notou a luzinha em seu pulso.
Engoliu em seco. Voltou para o banco dando passadas rápidas e posicionou o braço invasivamente na frente dos olhos da mulher.
- Olha só, nem 60 anos e liga a luz de Reparos - quase gritou.
Keyla pegou o antebraço dele e ficou checando, como se não acreditasse que havia uma luz vermelha piscante ali.
- Às vezes é mau contato. Vamos esperar até amanhã, se não parar a gente vê o que faz - ponderou ela.
Compraram as flores normalmente - lírios e magnólias estavam pela hora morte, optaram pelas açucenas. Keyla convidou Silvestre para comer um pastel de feira na barraca japonesa, ele recusou:
- Com esse troço piscando, melhor evitar fritura, vai que reequilibra o colesterol e ela só acende daqui uns cinco anos.
Na manhã seguinte, Silvestre acordou e a primeira coisa que fez foi olhar o pulso. O indicador seguia piscando, agora ainda mais forte. Acordou Keyla.
- É, Silvestre, toma um banho, bota uma roupa que vou te levar na loja da operadora - disse ela.
Depois de um desjejum leve - torradas com geleia de goiaba light e chá de pêssego - despediram-se de Camila e saíram. O trem dessa vez estava no horário e chegaram à loja em questão de minutos.
Uma atendente, trajada nas cores da operadora, os recebeu gentilmente à porta.
- Em que posso ajudá-los?
Foi Keyla quem respondeu:
- É o Silvestre. Está com 59 anos e ontem acendeu a luz de Reparos. Queríamos dar uma olhada nas opções novas com a mesma configuração dele.
Foram para uma mesinha ao fundo do estabelecimento.
A vendedora abriu a tela do computador e começou a fazer algumas perguntas:
- O modelo dele é o Silvestre 1.0?
- Exato. Pré-Pago. - informou Keyla.
- Olha, em estoque, eu tenho apenas o que saiu agora: o Silvestre 9.0 S. Mas só Pós-Pago...
- Podemos dar uma olhadinha nele? - pediu Keyla.
Em alguns minutos veio do depósito um Silvestre, só que mais jovem e viçoso. Cumprimentou o casal e ficou ao lado deles, solícito. A vendedora ressaltou o que havia de novidades.
- Ele é bem parecido com o Silvestre 1.0, só que os componentes são todos da geração Hyperion. Funcionam numa velocidade muito superior.
O casal ficou olhando para o modelo 9.0 S se movimentando pela loja. Keyla perguntou à vendedora:
- E o meu 1.0 entraria como entrada num desse zerado?
- Deixa eu consultar o meu gerente... - pediu a atendente e saiu da mesa.
Acabaram conseguindo uma boa condição e Keyla voltou para casa com a última versão do Silvestre.
Todos na família ficaram muito satisfeitos com a aquisição. E as fotos do aniversário de 15 anos da Camila, feitas por ele, ficaram com uma resolução sensacional.