Terça-feira, 9 de fevereiro
Reunião em família. Irene chorou muito.
Os meninos ficaram assoando o nariz. Mas, nessas horas, é
preciso saber abrir mão do supérfluo. O importante é que
todo mundo fique vivo, com saúde.
Tem o sofrimento de entregar a cachorra para o Canil da Polícia Militar, eu sei.
Isso depois de termos soltado os passarinhos e
colocado a tartaruga no lago do Ibirapuera semana retrasada.
É dureza.
Mas passa. Além do mais, 55 paus num saco de ração pra
bicho não há cristão que aguente.
Quarta-feira, 10 de fevereiro
Fizemos umas contas e decidimos cortar a água mineral em
galão que o Galizia entregava aqui, de bicicleta, toda semana.
Vamos beber da torneira mesmo, é tudo H2O.
A Irene amanhã vai mandar a diarista embora. Nós dois
vamos lavar, passar e cozinhar.
Abolimos também o cafezinho que está pela hora da morte.
(A saúde agradece, café é veneno!).
Quinta-feira, 11 de fevereiro
Conta de luz chegou. Vamos precisar passar um dia sim, e
outro não, sem usar nada elétrico.
Vai ser um exercício de criatividade.
A Irene quer mandar arrancar os chuveiros.
Daria uma economia de 25, 30% na luz.
É torcer pra sinusite do Thiago não piorar com esses banhos frios.
Se o menino cair doente, como é que faz sem plano de saúde?
Arriscar, né? Nome sujo de novo, não dá.
Por falar em saúde, no começo da noite a Karina se queixou
de dor de dente.
A Irene queria levar num pronto-socorro odontológico.
Fizemos um chá de capim-limão e mandamos ela tomar.
Sexta-feira, 12 de fevereiro
Manhãzinha, a Karina começou a se queixar do diabo da dor de dente.
Percebemos que era do aparelho.
Chamamos um vizinho que é marceneiro e, com jeitinho (e
uma chavezinha-de-fenda), ele conseguiu puxar direitinho os ferros da boca da menina.
R$ 120 de manutenção mensal a menos.
De tarde, o pessoal da tevê a cabo esteve aqui pra retirar o equipamento.
Disseram que tinha uma taxa pra desplugar.
A Irene cresceu em cima dos técnicos.
A sorte é que, bem na hora do esporro, entrou o rapaz do
Correio com o extrato do cartão de crédito.
Abri e comecei a berrar.
Eram as prestações da viagem pro hotel-fazenda.
Junto, uma carta dizia que o cartão tinha me botado no pau
por falta de pagamento.
Os camaradas do cabo ficaram com pena da gente: liberaram o serviço.
Sábado, 13 de fevereiro
Almoço na casa da sogra. Conversa boa, cervejinha, até que
se tocou no assunto dinheiro. A mãe da Irene não se
conforma da gente ter vendido nossa única vaga no prédio
pra pagar sete meses de condomínio atrasado. Mas pra que
vaga se roubaram o carro - sem seguro - e até hoje necas dele?
Sábado, 13 de fevereiro, à tarde
Eu no carrinho, a Irene na calculadora.
O dinheiro só deu pra comprar arroz, feijão e bucho.
É o terceiro mês que não se compra produto de limpeza pra casa.
O negócio é ir reciclando palha de aço enquanto o país não
entra nos eixos.
Domingo, 14 de fevereiro
Reunião em família. Irene chorou muito.
Os meninos ficaram assoando o nariz.
Chegou o parcelamento do banco e tivemos que abrir mão da gata Bruna.
Vai pra uma chácara em Itapecerica.
Mas tá prometida uma coisa. Quando a economia ficar boa, a
gente compra um sítio e faz uma criação de gatos, cachorros,
passarinhos e tartarugas.
É só ter mais um pouquinho de paciência.
É pedir demais?