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Opinião|Carta aberta aos satirizados

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Atualização:

Caros satirizados,

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Decidi escrever uma carta aberta a todos vocês por inúmeros motivos, mas confesso que dentre todos os que me moveram, estava lá, para minha surpresa, no fundo de mim a clamar, o maior e mais importante deles todos: a minha admiração por vocês.

Sim, há um fato que não posso negar. Durante a minha vida inteira fiz piadas com corruptos, racistas, moralistas, xiitas, hipócritas, ladravazes, vaidosos, idiotas, sacripantas, fanfarrões, ignaros e algumas vezes com anões.

Mas o momento é de união e cabe aqui o meu mea-culpa, queridos troçados.

Vocês, escarnecidos, fazem parte, queira eu ou não, do meu DNA piadístico e afetivo, do meu imaginário humorístico e são sim, alfinetados muito fora da curva, tanto na imoralidade das atitudes como na criatividade, na sordidez e na inspiração de seus gestos. Portanto, peço humildemente o perdão de vocês.

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Tenho consciência de que muitas vezes os incomodei com minhas sátiras e meu sarcasmo, que joguei luz sobre atividades que deveriam permanecer obscuras e que, não poucas vezes, seus nomes foram enlameados em função de minha acidez. Contudo, cumpre dizer que minha intenção não foi magoar ninguém. Tudo bem, em determinados casos posso ter exagerado, como quando chamei o Dunga de Donald Trump do futebol. Mas venho a público pedir minhas desculpas por ter sido, durante todos esses anos, cáustico por alguma discordância quanto ao modo como vocês operam na vida.

Sempre acreditei que o humorista era alguém que ajudava a sociedade a ponderar melhor sobre a realidade. Que deixando o rei nu conseguiríamos vestir o bom senso, chegando à tão sonhada equanimidade.

Só que não foi bem assim. Manguei, magoei, melindrei.

Quem sabe, nesse momento tétrico do país esteja justamente a nossa oportunidade de mudanças de paradigmas?

Minha proposta é esta: nos concedermos a oportunidade de revermos nossos pontos de vista, nossas metas, de conversarmos como pessoas adultas. Sim, humorista e suas vítimas, juntos, numa sala, colocando todas as questões e dúvidas para fora.

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Quem se sentiu prejudicado que venha com a alma lavada e reclame. Quem teve a necessidade de criticar que se apresente e se defenda. Sem a necessidade de advogados processando de um lado e, do outro, defensores apelando para o Animus Jocandi de sempre.

Somos todos parte da mesma Grande Piada contada por Deus.

A hora é essa, meus amigos zombados, recebam o meu carinho e consideração. E podem crer que haverá em mim um humorista com muito gás para cooperar com humildade e dedicação por um clima melhor.

Nossa mudança será através do afeto e dessa nova aliança que, tenho fé, construirá um novo e maravilhoso Brasil que vem por aí.

Topam?

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Um beijo pra vocês.

Carlos Castelo.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: carta válida para leitura, apenas amanhã, dia 1º de abril de 2016.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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