Uma vilã trendsetter e envolvente. Atena, a personagem interpretada por Giovanna Antonelli na novela "A Regra do Jogo", na Globo, chama a atenção tanto pela ousadia e excentricidade de seu personagem como pela construção de seu ultrajante figurino.
E figurino bom é aquele que antecipa um pouco as cenas do próximo capítulo. Estando bem conectado à personalidade do personagem, o look do dia escancara as intenções e inaugura a cena antes de qualquer gesto. No caso de Atena, as roupas em cortes assimétricos, as linhas diagonais, os maxidecotes traduzem uma mulher dinâmica, obstinada, sem limites, disposta a seduzir sempre.
E como manda o figurino, vamos começar analisando a persona de Atena pelos detalhes: suas unhas. Elas brincam com grafismos, com partes pintadas e outras em negativo. Nos remetem às garras das moon nails dos anos 30 - a meia lua da base das unhas não era pintada, ou pintada em cor contrastante; e suas pontas podiam ser pontiagudas, feito garras felinas.
Há um monte de tutoriais no Youtube pra fazer a gata vintage. E alguns anúncios de esmalte da época mostram bem por onde começava a arte da sedução.
Uma vez transportada para os anos 30, também encontrei semelhanças entre a personalidade de Atena e as divas vamps daquela época. Não, elas não se vestiam como nossa vilã, mas também usavam seu poder de sedução como arma e espalhavam um forte perfume de fetiche e mistério no ar.
Theda Bara, a primeira musa vamp de Hollywood, apareceu pela primeira vez no filme "Escravo de Uma Paixão", de 1915, e a partir daí assumiu essa imagem vampiresca vendendo para a imprensa uma história de vida cheia de mistérios. Ela afirmava ser a reencarnação de várias personagens vividas por ela no cinema, inclusive Cleópatra.
Já a Marquesa Luisa Casati, musa italiana e patrona das artes, foi uma autêntica vamp da vida real. Ela colecionava palácios e excentricidades, uma verdadeira Atena européia do começo do século XX.
Há relatos de que a Marquesa criava tigres como bichos de estimação e não raro recebia convidados de suas festas sem roupa, deitada sobre um tapete de pele de urso ou com uma cobra no pescoço fazendo o papel de acessório.
Ela usava maquiagem branca pesada e muito preto nos olhos. Isso uns 75 anos antes de Siouxsie Sioux - e ainda gotejava o sumo da beladona (uma planta em formato de sino, com folhas verdes escuras e jeito sombrio) nos olhos pra dilatar suas pupilas.
Foi retratada por inúmeros artistas, como Giovanni Boldini e Man Ray, e viveu seus últimos dias na pobreza. Madame Casati inspirou coleções de John Galliano, Karl Lagerfeld e infinitos editoriais de moda até hoje.
A cultura do fetiche sempre fascinou e arrebatou muitos seguidores. Os acessórios e lingeries de Atena com referência sadomasô parecem arreios - aquelas peças em couro e metais comuns em montaria -, e têm marcado presença em coleções contemporâneas, muitas vezes usados sobre alfaiataria ou camisa como ela mesma contrasta.
De maneira mais estilizada, essa onda domina o underwear e a moda praia também. O desfile de verão 2016 de Adriana Degreas, por exemplo, trouxe maiôs em tiras, peças assimétricas e recortes que brincam com espaços positivos e negativos pelo corpo, tudo em preto e branco.
Já a estilista americana Zana Bayne também explora muito bem esse universo em suas coleções. Inspirada por Thierry Mugler e Ann Demeulemeester, Zana é uma das prediletas de Lady Gaga.
Ela também poderia ser a designer favorita de Atena.