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Uma alimentação consciente no paraíso da comilança

Por uma Páscoa com menos personagens infantis

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Por Juliana Carreiro
Atualização:

 

Ontem levei meu filho de três anos ao supermercado para fazer compras comigo. A experiência parecia mais um passeio a uma loja de brinquedos, o problema é que esses brinquedos estavam atrelados a muito chocolate. Eu nunca vi uma oferta tão grande de ovos de Páscoa vendidos sobre canecas de super heróis, embalados com os personagens dos filmes do momento e recheados com os mais variados atrativos, de carrinhos a bonecas. Meu filho, claro, reconheceu todas as referências que foram utilizadas, mas voltou pra casa sem nenhum e posso garantir que não está infeliz. Isso para mim é venda casada de brinquedos e comida e também caracteriza propaganda abusiva. No Brasil existem algumas leis que proíbem tais práticas, mas elas não são cumpridas.

 

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No Reino Unido as crianças estarão mais protegidas a partir de julho deste ano. Uma lei aprovada recentemente pelo Comitê de Publicidade do país proíbe as propagandas dirigidas aos pequenos de fast foods e alimentos com alto teor de gordura e açúcar, que é o caso do chocolate. O objetivo da ação é reduzir o consumo desses produtos entre os menores de dezesseis anos e evitar o aumento da obesidade infantil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estima-se que até 2025 pelo menos 700 milhões de pessoas terão se tornado obesas em todo mundo. Segundo a OMS 41 milhões de crianças com menos de 5 anos já podem ser consideradas obesas.

 

O Ministério da Saúde anunciou que, até 2019, pretende reduzir o número de brasileiros obesos e com excesso de peso, males causados pelo excesso de ultraprocessados, como os fast foods e os produtos com muito sódio, açúcar, gordura e aditivos químicos e pelo sedentarismo, entre outros fatores. Para isso planeja investir em educação alimentar nas escolas e no desenvolvimento de um aplicativo com informações sobre alimentação saudável, e deve tentar fazer uma parceria com a indústria alimentícia, para que sejam reduzidas as quantidades de açúcar dos alimentos processados e para que as quantidades de sódio, gordura e açúcar dos produtos sejam destacadas nos rótulos, assim como já acontece no Chile. Entre as possíveis ações do governo federal, não foram citados o aumento da fiscalização e da punição para quem descumprir as leis de publicidade abusiva de alimentos voltadas para os pequenos. Essa deveria ser uma das principais frentes de combate de quem pretende diminuir os índices de obesidade de um país. Vale ressaltar, como já fiz em outros posts, que o excesso de açúcar pode causar danos em todas as crianças, não só nas que têm tendência para engordar.

 

Pode parecer exagero da minha parte, mas a influência dos anúncios lúdicos é muito poderosa sobre as crianças. Em uma rápida busca no youtube, me deparei com centenas de vídeos de bonecas ou crianças desembrulhando ovos de Páscoa de todos os tipos. Também perdi as contas de quantos vídeos encontrei com meninos, meninas, bonecas, bonecos e personagens infantis comendo e apresentando para os pequenos espectadores os alimentos e os brinquedos vendidos pelo Mc Donald's, certamente são centenas de vídeos com milhares de visualizações. Com certeza os filhos que assistirem a esses conteúdos irão pedir ao pais que os levem à lanchonete, os que forem atendidos muito provavelmente terão isso como um hábito. É a forma mais fácil e eficaz de formação de público e as consequências nocivas desse hábito serão as mais variadas e certamente aparecerão a curto, médio ou longo prazo. O meu filho vai sim ganhar um ovo de Páscoa, mas não fará uma coleção com todos os super heróis que ele viu, nem tampouco irá colecionar as lembrancinhas que recheiam tantos outros produtos. E vai continuar comendo doces só em ocasiões especiais, ele não precisa de açúcar todos os dias para ser feliz, por mais estranho que isso possa parecer.

 

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