Para explicar um assunto tão polêmico vou até recorrer à química. O ph do nosso sangue deve ser levemente alcalino, ou seja, básico. O leite de vaca possui três vezes mais proteína do que o leite materno, mas esse excesso de proteína faz com que o sangue fique mais ácido do que deveria. Para que ele volte a ficar equilibrado, um dos recursos que o nosso organismo utiliza é retirar o cálcio de dentro dos nossos ossos, que é onde ele deveria ficar, e o devolver à corrente sanguínea. Isso porque ao lado do magnésio, este mineral ajuda a alcalinizar o sangue. Quem também tem esta função alcalinizadora e que, portanto, ajuda a manter o cálcio no seu devido lugar são as frutas, verduras e legumes. Estudos da Organização Mundial da Saúde verificaram que os índices de fratura óssea e de osteoporose são menores em países onde há um menor consumo de cálcio vindo de fontes animais, como o leite de vaca. Isso porque nestes lugares há um grande consumo de outras fontes de cálcio, como legumes, verduras escuras e leguminosas, como feijão, ervilha, lentilha ou grão de bico, que são cada vez menos consumidos por aqui. Esses alimentos têm menos cálcio do que o leite, é verdade, porém, eles são ricos em todos os nutrientes, que trabalham em conjunto com esse importante mineral para que ele seja melhor absorvido e utilizado pelo nosso organismo. Por outro lado, em países como os Estados Unidos, onde há um baixo consumo de frutas, verduras e legumes e onde a média de consumo diário de leite é de cinco copos, a frequência destes tipos de deficiência óssea é a maior do mundo. Infelizmente, o Brasil está indo por este mesmo caminho. De acordo com o IBGE, o nosso consumo atual de vegetais e frutas corresponde a menos de um terço do mínimo recomendado pela OMS, de 400 gramas por dia. Mais uma vez, é importante pensarmos em garantir uma alimentação equilibrada. Não é preciso banir o leite de nossas vidas, mas com certeza é preciso reduzir o número de vezes em que ele aparece em nossos cardápios. Segundo o Guia Alimentar da Universidade de Harvard, o My Plate, o leite e seus derivados devem ser consumidos, no máximo, duas vezes por semana e em pequenas quantidades. Quando se pensa no cálcio, também é necessário diminuir a ingestão de outras substâncias que aumentam a sua eliminação por meio da urina, como o excesso de sódio, de açúcar, de cafeína, de ácido fosfórico (utilizado para gaseificar as bebidas), de gordura e de proteína de origem animal. Não me canso de sugerir. Vamos voltar a cultuar a comida de verdade? Vamos observar o que estamos comendo? Vamos repensar os nossos hábitos? Por que não?
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