PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

As inquietações de uma mãe de primeira viagem

A saudade da Copa

Para lembrar de ensinar a Valentina tudo o que ela me ensinou. A gritar gol - nem que seja do timão - enquanto a gente espera a próxima Copa. A vibrar com a vitória, a sofrer, ficar triste e até chorar com a derrota. Mas, principalmente, que perder faz parte do jogo.

Por thaisarbex
Atualização:

Impossível não ficar com o coração apertado, não chorar com o pedido de desculpas de David Luiz - que, aos prantos, diziaquerer "dar uma alegria ao meu povo que sofre tanto com tantas coisas." Impossível não ficar realmente triste com a derrota histórica para a Alemanha. Foi impossível também não se abalar com a saída de Neymar da Copa, segurar as lágrimas com aquele choro de dor do camisa 10 e não deixar a emoção tomar conta com a imagem de David Luiz consolando James Rodríguez depois da vitória do Brasil contra a Colômbia. E quem não chorou com a entrevista do Julio César depois do (sofrido) jogo contra o Chile? Minhas lágrimas, no entanto, carregavam um quê a mais. Nelas não estavam apenas o nó garganta depois dos 7 a 1, o choro de Oscar e a coletiva de Felipão sobre "o pior dia" de sua vida. Não era também desabafo de alívio depois dos pênaltis que levaram o Brasil às quartas de final, a alegria por chegar à semifinal e a tristeza de ver Neymar, de olhos inchados, se despedindo da Granja Comary. Eram lágrimas de saudade também. Saudade da última Copa que assistimos juntas, a de 2002, exatamente a do pentacampeonato do Brasil. Quer dizer, ela viu mais do que eu. Dormia até tarde só para conseguir acordar de madrugada e acompanhar os jogos do Brasil transmitidos direto do Japão. Ela tinha 72, eu 17. Foi com ela que aprendi o que é impedimento, a função do zagueiro e a do volante. Foi com que ela que aprendi a xingar o juiz e a torcer de joelhos. E a torcer também além das quatro linhas. Ela não resistia aos comentários sobre as pernas do Roberto Carlos e a paixão pelo Ronaldo - vivia, aliás, espalhando para quem quisesse ouvir que era madrinha do Fenômeno. E tinha quem acreditasse. Não foi ela quem me levou ao estádio pela primeira vez, mas foi com ela que aprendi que dia de futebol é sagrado. E foi com ela que aprendi a torcer pelo Palmeiras com o coração na mão. E também a ter um copo d'água com o remédio da pressão sempre a postos para qualquer emoção além da conta. Ela, de fato, sofria. Sentada na poltrona no canto direito da sala, de pé ou ajoelhada em frente à televisão. E era ali que eu entendia a tal da paixão pelo futebol. ... a última vez que nos vimos foi em junho de 2008. Um ano e meio depois, ela se foi. Mas, de uns tempos para cá, a vó Luiza tem reaparecido nos meus sonhos. Talvez seja para eu não esquecer de ensinar à Valentina tudo o que ela me ensinou. A gritar gol - nem que seja do timão (para a alegria do pai) - enquanto a gente espera a próxima Copa. A vibrar com a vitória, a sofrer, ficar triste e até chorar com a derrota. Mas, principalmente, a aprender que perder faz parte do jogo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.